No coração da floresta


Orlando Margarido, CartaCapital

“A imagem do índio que encara a câmera, altivo e desafiador, é talvez a mais pungente que se tenha visto no cinema brasileiro recente. Não é pouco quando lembramos dos bons documentários de nova safra que têm surgido sobre o tema indígena no País. Mas a cena pertence a uma ficção, ou melhor, presta-se a ela porque reconstituída a partir de um esforço real. Para o diretor Cao Hamburger, a visão desse guerreiro solitário foi decisiva desde o início para realizar o seu Xingu, com estreia prevista para 6 de abril. Tanto assim que ele ponderou então apenas precisar dar conta de uma história para justificar o rosto imóvel que tanto o marcou e por certo marcará o espectador.

Um exagero, claro, na medida em que essa narrativa trata nada menos que a aventura dos irmãos Villas-Bôas na aproximação com as tribos distantes e intocadas, e a consequente demarcação do Parque do Xingu, que comemorou seu cinquentenário em 2011. Hamburger, realizador afeito aos núcleos dramáticos econômicos que representam todo um contexto histórico, como em O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), nos propõe menos um olhar épico ou incensador habitual a filmes do gênero e mais um trato intimista calcado na relação dos três irmãos. Sim, porque há um trio que talvez a história oficial não tenha se esforçado em atentar, deixando Leonardo, ou mesmo Cláudio, à sombra de Orlando Villas-Bôas. “Minha geração parece ter esquecido dos sertanistas ou mal chegou a conhecer suas personalidades distintas, enquanto meus filhos nunca tinham ouvido falar deles”, aponta em entrevista a CartaCapital o diretor de 50 anos e filhos na faixa dos 20. Idade similar à que os Villas-Bôas tinham quando se lançaram ao Brasil Central.

Esta foi uma referência essencial quando Cao Hamburger recebeu a proposta do sócio Fernando Meirelles na O2 e de Noel Villas-Bôas, filho de Orlando, que levou a ideia à produtora. “Tínhamos ali um elo interessante, pois, se a preocupação desses cientistas era a preservação dos índios, agora se tratava de preservar a memória de quem lutou por eles.” De início titubeou, e foi pesquisar para descobrir que a literatura sobre os Villas-Bôas é rara, não mais do que algumas lembranças familiares, relatos de episódios pitorescos que contribuíram, por fim, além de biografias festivas. O desinteresse o intrigou e tornou-se o impulso inicial para seu próprio esclarecimento. “Não dá para entender a razão de se esquecer de quem mudou o paradigma da política indigenista no País. Era um momento daquele Brasil que deu certo.”
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