Orlando Margarido, CartaCapital
Um exagero, claro, na medida em que essa narrativa trata nada menos que a aventura dos irmãos Villas-Bôas na aproximação com as tribos distantes e intocadas, e a consequente demarcação do Parque do Xingu, que comemorou seu cinquentenário em 2011. Hamburger, realizador afeito aos núcleos dramáticos econômicos que representam todo um contexto histórico, como em O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006), nos propõe menos um olhar épico ou incensador habitual a filmes do gênero e mais um trato intimista calcado na relação dos três irmãos. Sim, porque há um trio que talvez a história oficial não tenha se esforçado em atentar, deixando Leonardo, ou mesmo Cláudio, à sombra de Orlando Villas-Bôas. “Minha geração parece ter esquecido dos sertanistas ou mal chegou a conhecer suas personalidades distintas, enquanto meus filhos nunca tinham ouvido falar deles”, aponta em entrevista a CartaCapital o diretor de 50 anos e filhos na faixa dos 20. Idade similar à que os Villas-Bôas tinham quando se lançaram ao Brasil Central.
Esta foi uma referência essencial quando Cao Hamburger recebeu a
proposta do sócio Fernando Meirelles na O2 e de Noel Villas-Bôas, filho de
Orlando, que levou a ideia à produtora. “Tínhamos ali um elo interessante,
pois, se a preocupação desses cientistas era a preservação dos índios, agora se
tratava de preservar a memória de quem lutou por eles.” De início titubeou, e
foi pesquisar para descobrir que a literatura sobre os Villas-Bôas é rara, não
mais do que algumas lembranças familiares, relatos de episódios pitorescos que
contribuíram, por fim, além de biografias festivas. O desinteresse o intrigou e
tornou-se o impulso inicial para seu próprio esclarecimento. “Não dá para
entender a razão de se esquecer de quem mudou o paradigma da política
indigenista no País. Era um momento daquele Brasil que deu certo.”
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