A constante transformação do tango


Em turnê pelo Brasil, o San Telmo Lounge se apresenta neste mês em Porto Alegre, São Paulo e Campinas; estrangeirismo do tango eletrônico tem a ver com crise econômica argentina, diz músico

Marina Mota, Valor

"Se o tango não muda, morre." O então jovem estudante de música Max Masri ouviu a frase nos anos 1990 do professor Virgilio Expósito (1924-1997), uma das lendas do tango. Foi com essa diretriz na cabeça que Masri, já nos anos 2000, formou a banda Tanghetto, que, junto com outros grupos surgidos em diferentes partes do mundo, na mesma época, ajudou a difundir o chamado tango eletrônico ou tango fusion - uma mistura da tradicional música argentina com ritmos contemporâneos e batidas eletrônicas. "O tango tem o direito de estar vivo e não ser um museu ou uma máquina do tempo que viaja aos anos 1940", diz o artista.

O grupo considerado pioneiro é o Gotan Project, criado em Paris pelo argentino Eduardo Makaroff com músicos europeus, em 1999. O Bajofondo - um dos ícones do movimento - foi lançado depois por Gustavo Santaolalla (argentino ganhador de dois Oscar de trilha sonora) e pelo uruguaio Juan Campodônico, reunindo artistas dos dois países para fazer o que chamam de música contemporânea do rio da Prata.

"O tango eletrônico tem o espírito do tango, mas é sobretudo uma música desta parte do mundo e reflete um pouco da idiossincrasia da gente daqui", diz Campodônico. Para ele, não se pode ser purista, pois o tango, assim como outros estilos, evoluiu nos últimos cem anos. Campodônico esteve em Buenos Aires no dia 22 de abril lançando para um público restrito seu primeiro disco solo, "Campo". A nova empreitada foge do estilo tango eletrônico, mas reuniu no palco os artistas do Bajofondo, que começaram a gravar um novo disco.

Assim como o tango tradicional saiu do submundo para o público massivo argentino depois de fazer sucesso na Europa dos anos 1920, o tango eletrônico também se firmou de fora para dentro. O Gotan Project não é o único europeu. O Otros Aires foi idealizado em Barcelona e só depois migrou para a Argentina. Mesmo os grupos formados na terra do tango receberam influência externas.”
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