André Setaro, Terra Magazine / Blog do André
Setaro
“Quando
nos perguntam quais os nossos filmes preferidos, ficamos acossados entre os
afetivos e os que se impõem pela importância história, o que dificulta a
realização de uma lista dos melhores de todos os tempos. Também há o problema
da limitação. Por que não colocarmos logo os vinte, os trinta, os cem? Mas há
uma espécie de apego, nestas listas, à dezena. Fiquemos, portanto, assim
limitados, embora existam filmes que gostaríamos de também incluí-los,
como A margem (1967), de Ozualdo Candeias, De vento em
popa e O homem do sputnick (1959), de Carlos Manga, A
grande feira (1961) e Tocaia no asfalto (1962), ambos de Roberto
Pires – nestes dois, afetividade grande, O cangaceiro, de Lima
Barreto, O padre e a moça, de Joaquim Pedro de Andrade, entre outros.
Interessante observar que, desta relação, oito filmes foram realizados nos anos
60, um nos 50 e outro nos 70. Por que esta preferência pela década de 60?
Acreditamos que a década mais criativa do cinema brasileiro. Em todo caso, cada
um tem sua lista e, afinal de contas, gosto não se discute. Quanto
a Limite, de Mário Peixoto, pensei em colocá-lo em primeiro lugar,
mas sua importância é tanta que fica a latere, hors concurs com
o títuto de filme Doutor Honoris Causa.
1) DEUS E O DIABO NA TERRA DO
SOL (1964), de Glauber Rocha, com Geraldo D’El Rey, Othon Bastos, Maurício
do Valle, Yoná Magalhães e Sonia dos Humildes. Filme-ópera que rompe com os
cânones narrativos do cinema brasileiro para instaurar uma estética dilacerante
onde estão em simbiose a tragédia sertaneja, plena de ecos gregos, e a
expressão lancinante de brasilidade, onde, num toque original e impactuante, a
influência de vários cineastas (Ford, Kurosawa, Buñuel, e principalmente
Eisenstein – a matança dos beatos é nitidamente influenciada pela seqüência da
Escadaria de Odessa de O encouraçado
Potemkin) se espraia num estilo personalíssimo. Este filme traumatizou
duramente o cinema brasileiro.
2) TERRA EM TRANSE, de Glauber
Rocha (1967), com Jardel Filho, Glauce Rocha, Paulo Autran. Ainda que a
tentação fosse a de não repetir realizadores nesta lista mambembe, não se pode
deixar de incluir esta obra-primíssima que retrata, num painel alucinante, o
terremoto da política brasileira. Obra de grande impacto em sua mise-en-scène,
com sequências audaciosas, é, também, um canto agônico, onde um poeta –
dividido entre a política e a arte, no processo de sua lenta morte, após um
tiroteio numa estrada, repassa o seu pretérito. O filme, portanto, tem sua ação
localizada na mente desse personagem enquanto dá seus últimos suspiros.
Surpreendente sob todos os aspectos.
3) SÃO PAULO S/A, de Luís Sérgio
Person (1965), com Walmor Chagas, Eva Wilma, Otelo Zelloni. O Cinema Novo se
desloca, aqui, do campo para a cidade. Person realiza uma obra delicada e
sensível onde a cidade paulistana se integra no conflito audiovisual, inserindo-se
na estrutura narrativa do filme como um personagem. Esta incorporação do
ambiente ao tecido dramatúrgico é rara na cinematografia. Centro da metrópole,
em plena era de industrialização, um homem perdido à procura de um sentido para
a sua existência. Exemplar!”
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