Sob o signo da ambigüidade (ainda Bye Bye Brazil)


Cassiano Terra Rodrigues, Correio da Cidadania

O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil ...

... O Brazil tá matando o Brasil ...
... Do Brasil, S.O.S. ao Brasil...
Querellas do Brasil (Aldir Blanc/Maurício Tapajós)

O slogan da moda, no idioma da moda: “Think Global – Act Local”, ou seja, “Pense Global – Aja Local”. Alguém sabe o que significa “pensar global”? As maneiras como podemos, por meio das nossas especificidades locais, orientar nossa ação global (e pensar é algo que realizamos, uma forma de agir), ainda estão indefinidas. Em tempos de ascensão do individualismo consumista, Bye Bye Brasil (dir. Carlos Diegues, Brasil, 1979) pode nos dar muito a pensar. Pois Bye Bye Brasil é um filme de um país que está deixando de ser o que por muito tempo foi para se tornar não se sabe o quê. Antes de falar do filme, passemos a algumas superficiais e necessárias considerações sobre o cinema nacional da segunda metade do século XX.

No pós-guerra da década de 1950, a indústria cinematográfica de Hollywood torna-se epicentro da irradiação de imagens cine-fotográficas, exportando seus filmes para o mundo todo e, por conseguinte, seus valores. Assim, ao menos duas “tarefas” são assumidas por diversos realizadores cinematográficos fora dos EUA: desnaturalizar o olhar, no sentido de desamericanizar, de questionar a naturalidade com que eram difundidas e recebidas as imagens produzidas à lá Hollywood; e documentar as mudanças sociais pelas quais o mundo passava após a Segunda Guerra Mundial. É nesse contexto que surge o Cinema Novo brasileiro, como uma resposta nacional à invasão de imagens produzidas de uma única perspectiva industrial, ideológica e estética.

No Cinema Novo brasileiro, essas tarefas acabaram por resultar em uma nova apresentação do homem brasileiro em relação com sua terra: o choque cultural, o estranhamento do outro, do novo, do inusitado, o racismo e a miscigenação, a pobreza e a desigualdade social e econômica apareceram nas telas de cinema como nunca antes. Paulo Emílio Salles Gomes, em seu Cinema: Trajetória no subdesenvolvimento, chegou a afirmar que só no Cinema Novo o povo brasileiro se descobriu a si mesmo – isto é, só as imagens do cinema novo nos mostraram, finalmente, uma ótica definitivamente não-estrangeirizada.

A herança deixada pelo Cinema Novo vê-se claramente nas personagens dos filmes feitos no Brasil depois das décadas de 1950 e 1960: elas colocam em questão a identidade cultural do país porque, ao constituírem-se na cultura e serem de fato protagonistas da História, têm consciência das transformações e mudanças por meio de seus próprios conflitos.”
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