Beleza e barbárie, ou: Flores do Oriente


Duanne Ribeiro, Digestivo Cultural

“Ambientado na 2ª Guerra Sinojaponesa (1937-1945), Flores do Oriente, filme do diretor chinês Zhang Yimou, retrata os movimentos finais da conquista da então capital chinesa Nanquim - e as brutalidades que a sucederam. Neste cenário, se refugiam em uma igreja alunas do internato local e seu bedel, prostitutas que não conseguiram alcançar uma das "áreas seguras" e um agente funerário americano que, indolente e irresponsável, acaba lá pelo dinheiro do culto. Desmantelam-se identidades que antes pareciam fixas, e a opressão da barbárie se torna o espaço para o crescimento ético.

Essa obra de Yimou foi lançada em 2011 no exterior e chegou ao Brasil há pouco. O diretor produziu, entre outros, A Maldição da Flor Dourada (2006), O Clã das Adagas Voadoras (2004) e Herói (2002). O aspecto plástico das suas produções é marcante, pelo uso das cores e apuro quanto a figurino e cenário. Embora pese a mão no melodrama em alguns trechos, o filme em geral lida bem com seu ritmo, variando entre tenso, contemplativo e brusco - as múltiplas dimensões do que seja a vivência de guerra, de uma maneira semelhante a que lemos, por exemplo, no livro Inverno da Guerra, de Joel Silveira. Esse é o filme mais caro da história do cinema chinês e traz Christian Bale (de Batman) como o agente funerário.

O título em português, meramente decorativo, não capta bem como o americano o caráter do filme: Flowers of War, flores da guerra, indicando não só as mulheres (sendo flor uma metáfora clichê para o feminino), mas também a ideia de que em meio ao horror e ao absurdo pode surgir a beleza. Por sua vez, o nome na língua original aponta para o dilema trágico da obra: 13 Mulheres de Nanquim ressalta a fatalidade deste número, destas mulheres e desta cidade arrasada. Um ponto em meio à crueldade ampla, um ponto-arquétipo. É através delas que sentiremos de forma concreta a arbitrariedade, como ela dilui os sujeitos, como permite seu próprio negativo - nas figuras do heroísmo e do sacrifício.

É interessante que possamos observar esse deslocamento de sentido apenas pela análise dos títulos: é algo similar ao que ocorre com os personagens. O bedel tem de cuidar das alunas após a morte do padre que geria a igreja; é só um menino, e as condições o forçaram a cumprir um papel maior do que ele. O americano, que se importa somente com seu conforto, se veste de padre por estar bêbado. Dessa piada surge inesperada uma tentativa digna: ele passa a atuar como verdadeiro clérigo, assim procurando impedir o ataque dos soldados, famintos por sexo, não importando a idade (registra-se que se estupraram mulheres de 7 a 90 anos). As meninas, entre prostitutas e internas, entram em conflito pelos diferentes estilos de vida e acabam se identificando. Por fim, têm de trocar de imagem e de função (a função macabra que se lhes atribui) da forma mais trágica.”
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