A mitologia original de Prometheus


Vicente Escudero, Digestivo Cultural

“Charlie Parker definiu com precisão seu processo criativo quando disse que primeiro é necessário dominar a técnica do saxofone para depois esquecê-la e seguir o ritmo do jazz com a banda no palco. Este mesmo processo de desenvolvimento da criação musical serve também para representar a evolução de artistas de outras áreas, sem menores reparos. Enquanto na música e na literatura a relação entre a identidade do artista e o domínio da técnica determina o valor da obra, no cinema - talvez a manifestação artística mais coletiva, entre todas- o valor mais importante para estabelecer a qualidade do trabalho define-se pela capacidade do diretor de criar um universo próprio, através de uma unidade estética ou temática, onde as peças se encaixam de forma a representar uma identidade exclusiva, sua impressão digital. Ridley Scott é destes poucos diretores que ainda são capazes de manter um universo artístico coeso, gravitado por outras obras de estilos diversos. Seu último filme, Prometheus, é o resultado da colisão entre os dois principais objetos de análise de sua carreira, depois do aprimoramento de sua técnica durante décadas produzindo em alto nível: a resistência do indivíduo em face a instituições opressoras e a estética da barbárie.

Ridley Scott analisou estes dois temas, de forma mais eficiente, dentro do gênero da ficção cientifica, definido pelo próprio diretor a partir de Alien (1979), seguido por Blade Runner (1982).Os dois filmes retratam distopias em que o futuro da humanidade é apresentado de forma decadente, onde os avanços tecnológicos estão a serviço de corporações gigantescas, restando à parcela da sociedade excluída viver clandestinamente ou condicionada aos desmandos do novo poder que, aos poucos, assume as funções do Estado.

Prometheus, criado depois de um hiato de trinta anos do diretor na ficção científica, é uma continuação da exploração desse universo na mesma palheta sem brilho e dark dos filmes anteriores, desta vez com tons diferentes, mas não menos assustadores e opressores. Blade Runner nasceu baseado no romance quase homônimo de Philip K. Dick e assemelha-se apenas na reprodução da cidade de Los Angeles coberta por uma fina camada de pó e castigada pela chuva. A arte em Alien também foi construída quase toda na escuridão, exceto pelas luzes de emergência da espaçonave, que aumentam o suspense iluminando de forma intermitente os traços biomecânicos criados pelo suíço H.R Giger. A principal diferença da arte de Prometheus em relação a estes filmes é de escala. Enquanto Alien e Blade Runner se desenrolam em ambientes fechados e limitados pela falta de luz, em Prometheus a ação é apresentada na escala natural, com paisagens observadas de uma perspectiva diferente, vistas do céu e exibidas até a linha do horizonte. Os efeitos especiais também são bastante cuidadosos, bastante diferentes da artificialidade borrada de Transformers. O auge desta técnica é alcançado na reprodução dos sonhos de um dos personagens através do pontilhismo e no contato das máquinas com pessoas e a paisagem natural. Apesar da aparência de cenário artesanal, as cenas de embarque e desembarque lunar foram criadas através de CGI (imagem gerada por computador), a partir de gravações na Islândia, incorporadas ao material produzido em estúdio. A naturalidade da fotografia, a produção do contato dos astronautas com o terreno extraterrestre, garante que o espectador esqueça por alguns momentos a premissa quase mística da visita de alienígenas à Terra em tempos remotos.

A maior parte do prazer em assistir filmes de ficção científica vem da capacidade da produção conseguir convencer o espectador, durante todo o filme, de que o universo apresentado corresponde à realidade ou, tratando-se de um futuro remoto, que esteja ancorado em princípios e regras reconhecidos pelo universo da física, química e outras ciências naturais. Trata-se de uma linha tênue e invisível separando o gênero da fantasia. Entretanto, se a ideia da produção for analisar questões metafísicas, distantes da simples transformações do cotidiano, o espaço criativo da produção (principalmente do roteiro) torna-se maior, já que a física e a química ainda não são capazes -talvez nunca serão- de identificar as origens da vida ou do universo de forma cabal. A arte, neste ponto, trabalha com a mesma ferramenta destas ciências, desenvolvendo uma tese que possui a vantagem de ser provada certa ou errada de acordo com o gosto do espectador. Prometheus apresenta no centro de seu roteiro uma tese estapafúrdia, que um dia já foi defendida por grandes nomes da química e, hoje, é estudada sobre outro ponto de vista, bastante distante da possibilidade de seres extraterrestres terem iniciado voluntariamente a vida em nosso planeta, contida no roteiro do filme. Trata-se da hipótese da panspermia dirigida.

A hipótese da panspermia dirigida foi defendida inicialmente em 1973 por um dos descobridores da estrutura do DNA, o biofísico inglês, vencedor do prêmio Nobel, Francis Crick. De acordo com sua tese, considerando a dificuldade do processo de duplicação do material genético nos seres vivos, que envolve vários processos extremamente complexos de reprodução de proteínas, os quais sempre estiveram presentes desde as fases mais primitivas da Árvore da Vida, o início da vida na Terra teria ocorrido através do envio ao nosso planeta, por seres alienígenas, de material genético pronto para se autorreproduzir. Crick abandonou esta tese, mais tarde, argumentando que havia sido muito pessimista sobre a possibilidade real do surgimento espontâneo da vida (abiogênese). Atualmente, a tese da panspermia ainda é considerada cientificamente, mas sem a poesia da mitologia alienígena. Em relação ao nosso planeta, estuda-se a possibilidade de que asteroides ou mesmo material expelido de Marte, devido a uma colisão com algum outro objeto, tenha enviado até aqui os blocos formadores da vida, o conjunto de aminoácidos presentes em nosso DNA. Marte é considerado um grande candidato, pois passou por um período de resfriamento anterior ao de nosso planeta e já possuiu água líquida em sua superfície.”
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2 comentários:

Fabio disse...

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Anônimo disse...

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