Nei Duclós, Revista Bula
“Um filme medíocre, meloso, que encanta as
plateias porque usa o mito ancestral, o da Cinderela, repete jargões de outros
sucessos do cinema, tem a aparência politicamente correta, se sintoniza com
comportamentos emergentes e contrapõe migrantes e conservadores numa
convivência pacífica e amorosa
O megassucesso francês “Intocáveis” (de
Olivier Nakache e Eric Toledano) tem várias sintonias com outro preferido do
público: o americano “Pretty Woman” (de Garry Marshall). É a sempre bem aceita
síndrome de Cinderela, quando alguém muito pobre tem acesso a um palácio, a um
personagem rico e pinta um clima que acaba emocionando a plateia e acaba sempre
bem. A prostituta (Julia Roberts) contratada como scort pelo multimilionário
depredador de empresas (Richard Gere) é, na versão francesa, o afrodescendente
(Omar Sy) que é escolhido como acompanhante do ricaço (François Cluzet) com
todo o perfil do nobre europeu, já que não sabemos qual a origem da sua
fortuna.
Em ambos os filmes, o personagem carente
acaba experimentando um banho de loja e de cultura. Até a cena da ópera é
idêntica. A solenidade do evento artístico é quebrada pelo furão ignorante
divertido, para espanto da seleta convivência. Há ainda o contraponto óbvio
entre o vazio de quem tem dinheiro e a alegria de viver de quem não tem. Sim,
tolinhos espectadores, dinheiro não traz felicidade a não ser que entre no
circuito alguém que jamais teria acesso a tanta riqueza e faz tudo ficar com algum
sentido. A grana, enfim, vale para alguma coisa, desde que o emergente traga de
suas origens aquele visgo que só a escravatura é capaz de dar com seu rebolado
e seu sapateado. E que ganha o olhar complacente dos funcionários bem postos do
privilégio, como o gerente de Hotel de “Pretty Woman” ou as secretárias de
“Intocáveis”, todos no papel da fada madrinha que incentiva a presença do
ungido no baile.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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