Juca Ferreira
recebe artistas ligados ao hip-hop nesta terça. Foto: Sylvia Masini /
Secretaria municipal de Cultura
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Piero Locatelli, CartaCapital
O promotor de vendas Bruno de Andrade, 18
anos, mora no bairro de Heliópolis, zona sul de São Paulo. Fã de rap,
reclama que precisa ir até o centro da cidade para ver os shows que deseja,
mesmo quando os grupos têm origem na periferia. “O cara tem que vir da favela
para o centro ouvir um rap, e não o contrário, como deveria ser”, diz. Andrade
foi uma das pessoas que participaram de um encontro entre o secretário
municipal de Cultura de São Paulo, Juca Ferreira, com grupos e artistas ligados
ao hip-hop na noite de quarta-feira 10, no Centro Cultural São Paulo. O
encontro uniu artistas famosos, como os rappers Rappin Hood e Emicida, além de
produtores culturais, professores da rede pública, MCs, DJs e dançarinos. No
evento, eles escancaram os problemas deste movimento cultural na cidade.
O gênero vem sendo escanteado pelo poder
público desde o conflito no show do Racionais MC`s na Praça da Sé em 2007. Naquele
dia, diversas pessoas ficaram feridas em uma ação da polícia durante o show na
Virada Cultural. Desde então, o rap tem ficado relegado ao segundo plano nos
eventos culturais da cidade.
No inicio do evento, o secretário disse que existe uma “dificuldade” na relação entre o poder público e o hip-hop em São Paulo. Segundo ele, há uma “quase criminalização” do movimento na cidade. Ferreira prometeu mudanças e a descriminalização do movimento, dizendo que a inclusão de artistas de hip-hop no aniversário da cidade neste ano foi um primeiro passo neste sentido.
No debate de quarta-feira, diversos problemas foram apresentados: a falta de equipamentos culturais na periferia, a concentração de dinheiro na mão de poucos artistas, a baixa qualidade dos professores na rede pública ligados ao gênero, a falta de políticas de gênero envolvendo o hip-hop e diversos outros pontos. “A gente não tem que viver de política pública. O que a gente tinha era que poder fazer tudo de maneira privada, mas a gente ainda não tem como”, disse Rappin Hood no evento.
O encontro foi o segundo da série “Existe
diálogo em São Paulo”.
O primeiro, realizado em fevereiro, não teve um tema específico e contou com a
participação de mais de mil pessoas.
Reivindicações
No evento, o MH2O (Movimento Hip-Hop
organizado) entregou uma série de reivindicações à secretaria municipal. Elas
foram levantadas em uma reunião convocada pelo produtor Milton Sales no último
sábado 6 na Favela do Moinho, no centro da cidade.
Entre as demandas, está a criação de cinco
casas de hip-hop, o fomento a estúdios públicos de gravação, a criação de um
VAI (Programa de Valorização de Iniciativas Culturais) específico para a área e
a formação de um “conselho da favela”, nos moldes do conselho da cidade. A
íntegra do documento pode ser acessado clicando aqui. Rodrigo
Savazoni, chefe de gabinete de Juca Ferreira, se comprometeu a criar um grupo
de trabalho para discutir as demandas apresentadas na reunião.
Juca Ferreira se comprometeu com outras
reivindicações apresentadas. Ele concordou com a crítica de que as casas de
cultura não aceitam o hip-hop e defendeu que elas deixem de ser administradas
pelas subprefeituras e passem a ser centralizadas na secretaria. O secretário
municipal também disse que levantará a proposta de criar conselhos locais nessas
casas de cultura para aumentar o diálogo com a população.
O promotor de vendas Bruno de Andrade
espera que a reunião ajude a ampliar as oportunidades de lazer na periferia e a
diminuir a exclusão da música. “Ano passado, não teve vinte shows de rap onde
eu moro. E nenhum teve ajuda da prefeitura. Antes o rap era mais criminalizado,
mas era mais forte na favela”, diz.”
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