"Só Sambas" (Fina Flor) é o
primeiro CD de Susana Dal Poz. Seu bom potencial vocal torna-se perceptível
quando ela revela uma estreita mas eficaz extensão, que navega bem nas notas
intermediárias e emite as sílabas com firmeza, mantendo-as afinadas desde o
início até o final das frases melódicas. Isso não é pouco, não.
No repertório, Noel Rosa: "Com Que
Roupa", "Palpite Infeliz" e "O X do Problema",
Nelson Cavaquinho: "A Flor e o Espinho" (parceria com Guilherme
de Brito e Alcides Caminha) e "Coração Poeta" (parceria com
Paulinho Tapajós), Assis Valente: "Camisa Listrada" e
"Alegria" (parceria com Durval Maia), Wilson Moreira: "A Mais
Nova Conquista" e "Vou Matar Você de Raiva", Geraldo
Pereira: "Falsa Baiana", Dorival Caymmi: "A Vizinha do
Lado", Janet de Almeida e Haroldo Barbosa: "Pra Que Discutir Com
Madame". Como dá para notar, dos doze sambas selecionados apenas três, os
dois de Wilson Moreira e o de Nelson Cavaquinho com Paulinho Tapajós, não são
grandes sucessos.
Ao priorizar títulos muito interpretados e
por isso mesmo um tanto repetitivos, Susana correu dois riscos: a escolha
poderia ser vista como insegurança e medo de arriscar ou incorrer no “perigo”
da comparação, já que a maioria desses grandes sambas já foi muito (e bem)
cantada por grandes cantoras de ontem e de hoje.
Nenhum dos dois riscos abalou o resultado
do trabalho, ou, se abalo houve, foi de pouca monta. Pois os clássicos,
cantados com correção, fazem a felicidade de quem deles gosta e nunca se
cansará de escutá-los. As inevitáveis comparações mostrarão que a novata Susana
está no caminho certo para logo, logo, se equiparar a uma Roberta Sá ou a uma
Teresa Cristina.
Os sambas pouco conhecidos, principalmente
os de Wilson Moreira, bem como a interpretação de "Camisa
Listrada" (três dos grandes momentos do álbum), mostram que ela tem
potencial para, no próximo CD, ir ainda mais longe. Quem sabe cantando músicas
inéditas, o que lhe permitirá trazer à tona a sua verdadeira personalidade
interpretativa, que a caracterizará e identificará perante o público.
Em sua estreia com "Só Sambas",
Susana Dal Poz conta com um grande trunfo: a produção, os arranjos e os violões
de seis e de sete cordas de Bernardo Dantas. Os arranjos marcam pela presença
constante dos sopros de Dirceu Leite, Maico Lopes e Fabiano Segalote e por uma
cozinha rítmica de enorme qualidade (Pretinho da Serrinha e Trambique). Há que
se ressaltar também o naipe de cordas (Felipe Prazeres, Gustavo Menezes, Ivan
Zandonade e Janaina Salles), o cavaquinho (João Callado) e o baixo acústico
(Augusto Mattoso). O suingue sacudido deles prepara a cama para que Susana
deite e role. E, apesar de ainda lhe faltar picardia para brincar com divisões
das frases, ela se sai muito bem.
Susana é uma cantora a quem se deve dedicar
carinhosa atenção, posto que ela tem nas mãos e no gogó o poder de amadurecer
para se revelar uma cantora que, por ora, já se divisa grande.”
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