André Setaro, Terra Magazine / Blog do André
Setaro
“Considero Spartacus
(1960), de Stanley Kubrick, o melhor épico da história do cinema, ainda que o
diretor não tenha tido a oportunidade de concebê-lo na sua integridade, pois,
tratando-se de uma produção da companhia de Kirk Douglas, a Byrna (nome em
homenagem à sua mãe), o autor de A laranja mecânica
somente foi convidado após a desistência de Anthony Mann, que entrou em
conflito com o poderoso producer. Douglas, que já tinha
trabalhado com Kubrick em Glória feita de sangue (Paths of
glory,
1958), e admirado muito o seu trabalho, com a saída de Mann o convidou para
assumir a direção, apesar dos protestos de alguns acionistas de sua empresa
produtora, que consideravam Kubrick um imberbe para uma
empreitada caríssima como Spartacus. O fato é que o filme,
monumental, possui características kubrickianas na maneira de encenar, na
composição do enquadramento (a câmera no chão com os gladiadores de corpo
inteiro,etc), no sentido peculiar do ritmo, do timing, e
da concepção de montagem (Laurence Olivier, como Craso, enquanto fala para sua
tropa, tem, intercalando-a, Spartacus a falar para seus comandados em montagem
paralela extremamente funcional). O melhor de tudo, porém, é a seqüência da
batalha final, que somente poderia ter sido dirigida mesmo por um mestre como
Kubrick, pois se assemelha, pelo impacto, pela força expressiva, à seqüência da
batalha do gelo de Alexandre Nevsky (1938), de Serguei Eisenstein. Se, nesta, a
partitura é de Prokofiev, a de Spartacus é de Alex
North, músico especializado em grandes temas para cinema e que tem neste filme
um de seus momentos de glória.
Filme de
produtor, assim como …E o vento levou é de David Selznick, Spartacus,
ainda que comandado administrativamente por Kirk Douglas, este confiou na
capacidade daquele rapaz e lhe deu carta branca para a concepção das grandes
seqüências. Este imenso espetáculo, singular na história do cinema, saiu em
edição especial cheio de extras em DVD, e pode ser considerada a superprodução
hollywoodiana que melhor se conservou com o passar do tempo e, vista hoje, é
como se o filme tivesse sido feito agora. A sensação que se tinha, quando do
seu lançamento em 1961, aqui em Salvador, era de um filme avançado para a sua
época em termos da sua concepção de mise-en-scène,
deixando em segundo plano Ben-Hur e Os dez mandamentos,
embora estes possam, também, serem considerados espetáculos primorosos dentro
das fronteiras de seu gênero. Spartacus, no
entanto, ganha de todos eles por sua magnificência, sentido de cinema pulsante,
elenco inexcedível. E Laurence Olivier, como Craso, tem, aqui, um de suas
performances mais eloqüentes.
Vi Spartacus,
pela primeira vez, no velho cine Tupy antes da reforma de 1968. No já distante
ano de 1961, quando, com 11 anos, quase que não conseguia entrar, pois, na
época, o filme era proibido para menores de 14 anos. Assim, talvez meu
entusiasmo pelo filme tenha vindo pelo impacto que provocou no adolescente que
estava se formando como cinéfilo impertinente. Mas continuei, pela vida
inteira, a ver Spartacus, indo assisti-lo onde quer que
estivesse passando. A última vez que foi exibido em cinema, creio, se a memória
não falha, foi nos anos 70, no Tupy, em cópia esplendorosa na bitola de 70mm. Depois
passou para a fita magnética, em horrendo full screen, e,
agora, vem restaurado em edição que respeita a integridade de seu
enquadramento, isto é, preservando o cinemascope original.
O fascínio
que permanece em Spartacus se deve muito à contribuição
de Stanley Kubrick como metteur-en-scène e, também, pela
confiança que Kirk Douglas depositou nele. Produtor de visão, este dispensou a
Kubrick a necessária liberdade para conceber o espetáculo, embora com algumas
discussões e atritos por causa do temperamento do realizador de Lolita.
Spartacus
é um filme permanente que, se for ser sincero, o colocaria entre os 10 melhores
filmes que já vi. Há, nestas listas de melhores, as listas afetivas e as
protocolares, que procuram aferir a importância dos filmes no processo
histórico da sétima arte. Posso dizer que após os 11 anos de idade, quando o vi
pela primeira vez, naquele Tupy com o teto cheio de teias de aranhas negras, Spartacus
permaneceu comigo, fazendo parte, portanto, de minha história de cinéfilo.
O cinema
como expressão artística, vim a compreendê-lo após ver, imbuído de certa
estupefação, O
eclipse (L’eclise), de Michelangelo Antonioni,
assistido num domingo pela manhã no Tamoio recém inaugurado (que substituiu o
Glória após reforma infraestrutural). Naquela época, os filmes eram lançados às
segundas e aos domingos, dez da manhã, havia as famosas pré-estréias. Foi numa
delas que vim a conhecer o grande Antonioni, autor de uma trilogia
indispensável e imprescindível: A aventura, A
noite,
e o citado O
eclipse.
Mas
estava falando de Spartacus…”
Um comentário:
Spartacus é um grande filme , porém o considero de certa forma arrastado,melhorando no seu decorrer. Mas nada se compara ao grande épico ben hur.
Ben hur foi o únco filme até hoje que me deixou em êxtase.Tive o privilégio de te-lo assistido no cinema em 1977, nos meus 16 anos de idade.Respeito a opinião, mas para mim foi o único filme que do começo ao fim é praticamente impecável com cenas de cair o queixo. Vou emprestar aqui as palavras de um comentário que li sobre ben hur.
As cenas do conflito político entre Hur e Messala no início do espetáculo com excepcionais interpretações de Heston e Boyd e com a mais absoluta riqueza de diálogos e detalhes, por si só já coloca a obra de William Wyler acima de todos os filmes (de qualquer gênero) já realizados em toda a história do cinema.
E acrescento ainda que o DRAMA(traição) aliado a um forte sentimento RELIGIOSO( a presença do cristo ), que conduz espiritualmente ben hur juntamente com a AÇÃO( corrida de bigas, vingança), foram os melhores ingredientes que um épico pôde proporcionar até hoje.
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