Filme Glória é sucesso no Chile e em Locarno. |
Por Rui Martins, de Locarno / Correio doBrasil
“O filme chileno Glória, de Sebastián
Lelio, era o grande favorito, no Festival de Berlim, mas teve de se contentar
com o prêmio de melhor interpretação, concedido à atriz Paulina Garcia. Ambos
foram convidados para mostrar ao público da Piazza Grande, o sucesso de Glória,
projetada no gigantesco telão. E contar aos jornalistas as repercussões dessa
glória em termos de bilheteria.
Sebastián Lelio relatou ter tido Glória um extraordinário sucesso no
Chile. A vitória de Paulina foi vivida com euforia pelos chilenos e o novo
fenômeno social dos homens e mulheres perto da terceira idade curtirem festas e
transarem, virou o tema mais falado e mais debatido pela população.
Em termos de bilheteria, o filme será logo exibido na Alemanha e foi
comprado por 45 países, muitos com estréias locais previstas em dezembro.
Glória
foi exibido diante de oito mil pessoas na Piazza Grande que, pela segunda vez,
viu um filme chileno, pois no ano passado quem ocupou o telão foi o filme Não
(No), de Pablo Larrain, com Gael Garcia Bernal, sobre o referendo chileno que
derrubou o ditador Pinochet.
Relembrando Glória
Glória é uma mulher ativa, cheia de vida, dinâmica, que, aos 58
anos, depois de divorciada há treze anos, busca carinho e amor em soirées
dançantes. E é assim que encontra Rodolfo, de 65 anos, recém-divorciado, com
quem imagina poder ter uma ligação durável. Mas a idade de Glória e Rodolfo não
significa filme de amor entre idosos, como foi em Cannes o grande sucesso de
Michael Haneke. Bem ao contrário, não se trata de um filme lúgubre, o clima é
de comédia engraçada, capaz de conquistar mesmo os jovens espectadores.
O realizador Sebastián Lelio bem define « hoje, quando homens e
mulheres chegam aos 60 anos não seguem as mesmas referências do passado. Não
querem ficar em casa, para eles trata-se de uma nova fase da vida, na qual
querem também se divertir e dançar e viver. Existem hoje, no mundo, muitas
Glórias, divertidas e alegres, capazes de superar os dissabores que surjam ».
Os próprios corpos das cinquentonas e sexagenários parecem ter se
rejunescido, tanto que o cineasta chileno não se priva de mostrar Glória e Rodolfo
nus na cama, nos gestos do amor, sem cair no ridículo.
Glória não é bonita mas acaba por conquistar a todos pelo prazer de
viver que irradia, como as cenas em que canta no carro, acompanhando as músicas
que ouve no caminho para o trabalho.
Sebastián Lelio quis mostrar uma personagem feminina forte, tendo
como pano de fundo o Chile de hoje, em rápida modernização, curado dos males de
sua história recente num processo de reconstrução. Como diz o próprio Lelio, o
Chile é hoje um país em efervescência social, onde são frequentes as
manisfestações dos jovens nas ruas. E esse Chile, cujo povo não é indiferente à
politica, aparece também no filme sem interferir na história, mas ter um
passado profissional no Exército ou na Marinha é uma má referência para Rodolfo.
Lelio diz ter tirado sua inspiração de acontecimentos gerados pela
própria vida de Santiago e de casos contados entre amigos. E não esconde sua
admiração pela bossa nova brasileira, inserindo-a no filme, como poesia do
cotidiano.”
Rui Martins, de Locarno, convidado pelo
Festival de Cinema.
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