Camila Maciel, Agência Brasil
"O tema escolhido [Realidades Incendiárias] tem o sentido tanto de entender o palco como uma realidade transformadora, quanto [de entender] como ela é retratada por esse palco. Foi aí que chegamos a esses países, onde os conflitos são, infelizmente, ainda presentes", explica Celso Frateschi, diretor do Teatro da USP (Tusp). Ele reforça que o olhar para seleção dos espetáculos foi, sobretudo, artístico. "A curadoria não teve nenhuma preocupação em atender a algum tipo de demanda comercial existente."
Para a diretora teatral Deise Abreu Pacheco, integrante da curadoria da mostra, uma das discussões propostas pela bienal será o próprio enquadramento das produções em uma categoria. "Não são espetáculos o que a gente vai mostrar. É difícil nomear. São, na verdade, experiências muito radicais que tratam de questões da vida dessas pessoas", disse. Os curadores acreditam que, ao assistir a todas as apresentações, o público terá experiências diferenciadas. "Nenhuma é contemplativa, mas a forma como isso se dá é variada", complementou Ferdinando Martins, vice-diretor do Tusp.
A mostra será aberta às 14h, no Tusp, com o 66 Minutes in Damascus (foto acima), do diretor libanês Lucien Bourjeily, inédito no Brasil. Com sessões seguidas para apenas oito pessoas de cada vez, o espetáculo levará o público a uma imersão cênica que propõe a experiência próxima à realidade de um turismo de guerra. A produção foi composta a partir do relato de jornalistas estrangeiros e ativistas locais sobre os centros de detenção sírios. Os turistas, que são os próprios espectadores, são presos pelo serviço secreto do país.
Outra atração internacional é a peça argentina Mi Vida Después (foto à esquerda), da diretora Lola Arias. O espetáculo promove o encontro de seis atores nascidos na década de 1970 com a juventude de seus pais a partir de fotos, cartas, fitas, roupas e memórias. Da Cisjordânia, o diretor Gary M. English traz o espetáculo The Island, que reconta a história do apartheid. Serão apresentados ainda os espetáculos estrangeiros Damned Be Traitor of His Homeland! (Eslovênia/Croácia); e Macbeth - Leila and Ben: a Booldy History (Tunísia).
Quatro espetáculos nacionais completam a programação da bienal. No dia 5 de novembro, às 20h30, o grupo Desvio Coletivo discute, na peça Pulsão, a motivação da vida por meio de jogos relacionais e de cenas que operam no limite entre o teatro e a performance. "O roteiro surgiu quando estava em um hospital vivendo uma situação limite ", contou Marcos Bulhões, diretor-geral do espetáculo. Ele considera positivo que a mostra selecione apresentações que fujam do apelo comercial. "Acreditamos que o espaço pedagógico permite esse tipo de ruptura."
O diretor do Tusp aposta que essa independência comercial, tendo em vista que todo o financiamento é da USP, será um diferencial da mostra em relação a outros festivais. "Como universidade, o que nos caberia fazer? Achamos que não seria correto que fôssemos para uma disputa de trazer o espetáculo mais importante do mundo. Nosso olhar foi tentar colocar questões que, pela característica dos festivais existentes, não se consegue colocar. Abrir essa questão estética", justificou Frateschi.
A programação nacional terá também os espetáculos BadenBaden, do Coletivo Banal de Florianópolis (SC); Arqueologias do Presente: a Batalha da Maria Antônia, da diretora Cristiane Zuan Esteves (SP), e Outro Lado, dirigido por Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria, de Minas Gerais. A mostra conta ainda com atividades gratuitas de conferências, workshops e minicursos que podem ser conferidas no endereço www.usp.br/bienaldeteatro.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário