Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo
'A China desperta ao mesmo tempo muita curiosidade e controvérsias. É
previsível, dada a velocidade com que a China caminha rumo à liderança
mundial.
Para ajudar a criar uma opinião mais fundamentada para todos nós, vou
traduzir aqui alguns trechos do capítulo de seu livro sobre a China em
que o intelectual inglês Bertrand Russell dissertou sobre o “caráter dos
chineses”. Russell viveu na China, há cerca de cem anos.
Evidentemente suas palavras não devem ser tomadas como verdades
definitivas. Mas há nelas, desde que a pessoa não as leia já movida por
preconceitos, algo que ajuda a ver em meio às brumas.
Enumerarei algumas, traduzidas o mais fielmente possível:
1) Os chineses, mesmo aqueles que são vítimas de infortúnios
evitáveis, reagem com indiferença. Esperam os problemas passarem como
se fossem a efervescência de um refrigerante. Depois de algum tempo, ele
se pergunta: “É sábio ficar sempre em guarda na expectativa de futuros
desastres? Devemos gastar nosso tempo construindo uma mansão que não
vamos poder aproveitar?”
2) Os chineses, ao contrário dos povos ocidentais,
mantiveram a capacidade de ter um prazer civilizado. Cultivam o tempo
livre e as risadas, assim como as discussões filosóficas. De todas as
raças que conheci, os chineses são os que mais amam o riso. Eles acham
diversão em tudo, e uma disputa pode ser sempre atenuada por uma piada.
3) Os chineses, das camadas mais altas às mais baixas, têm
uma dignidade pacata que é imperturbável, e a qual não costuma ser
destruída nem quando eles recebem uma educação européia. Não são
enfáticos, nem individualmente e nem como nação. Seu orgulho é muito
grande para a ênfase. Eles admitem a fraqueza militar da China, mas não
julgam que a perícia em matar seja uma qualidade numa pessoa ou num
país.
4) Todo mundo tem um rosto, mesmo o mendigo mais humilde.
Você não deve impor humilhações a ele, ou transgredirá o código de
comportamento chinês.
5) Nada impressiona mais um europeu num chinês do que a paciência. Eles pensam não em décadas, mas em séculos.
6) A China é muito menos uma entidade política do que uma
civilização – a única que sobreviveu dos tempos antigos. Desde os dias
de Confúcio, os impérios do Egito, da Babilônia, da Pérsia, da Macedônia
e de Roma se foram. Mas a China persistiu numa contínua evolução. Houve
influências externas – primeiro o budismo, e agora a ciência ocidental.
Mas o budismo não tornou a China uma Índia e nem a ciência ocidental
vai transformá-los em europeus.
7) O que é ruim no Ocidente – sua brutalidade, sua falta de
descanso, sua presteza em oprimir os fracos, sua preocupação apenas com
coisas materiais – os chineses não querem adotar. O que é bom,
especialmente sua ciência, eles querem adotar.
8) Os chineses que se educaram no Ocidente sabem que um novo
elemento é vital para dinamizar velhas tradições, e eles olham para
nossa civilização em busca disso. Mas eles não querem construir uma
civilização igual à nossa. E é precisamente aí que estão depositadas as
melhores esperanças. Se eles não partirem para o militarismo, eles
poderão criar uma nova civilização, melhor que qualquer uma que nós
ocidentais fomos capazes de erguer."
Um comentário:
O único porém é que esse texto tem quase 100 anos. Serve para fazer comparações entre o passado e o presente, mas não serve como referência.
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