Em "Anos Felizes", um mergulho na infância

Pela câmera, a consciência do mundo
"O diretor italiano Daniele Luchetti lança mais um filme centrado na questão dos laços familiares

Orlando Margarido, CartaCapital 

Anos Felizes

Daniele Luchetti

Daniele Luchetti fez questão de realizar Anos Felizes, em cartaz, na versão 8 milímetros, depois transposta aos 35 mm. A visão de sua família que vivia aos trancos enquanto ele tentava crescer equilibradamente também é uma homenagem ao cinema, ao qual foi introduzido por uma câmera super 8 dada pela avó materna. No filme, o pai lhe traz de uma viagem. Há esta e outras liberdades na infância que o diretor italiano leva à tela com delicadeza, sem abrir mão da crueza. Sugere ser assim a memória desde que deixamos de ser crianças. Nem tudo se quer lembrar, muito pode ser imaginação.

É nesse vácuo das fantasias que procura sobreviver Dario (Samuel Garofalo), de 10 anos, durante a década de 1970, ao testemunhar os pais sempre às turras. Guido (Kim Ross Stuart), o pai, acredita ser um transgressor e busca o reconhecimento como artista plástico, fama que nunca chega. Serena (Micaela Ramazzotti) não entende a personalidade do marido, seu distanciamento da realidade, e o tolhe com o ciúme por ser também mulherengo. Em troca recebe a indiferença, e se refugia no interesse por uma galerista (Martina Gedek). Dario e o caçula são esteios da união, mas há um limite. Quem conhece o notável Meu Irmão É Filho Único e o filme seguinte La Nostra Vita sabe como a questão dos laços familiares é fundamental ao diretor. Aqui, apenas precisou estreitá-los com mais afeto e conhecimento de causa."

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