Os Ramones foram vítimas de sua própria criação: uma ode a Tommy Ramone (1952-2014)

o jovem Tommy Ramone no fim dos anos setenta
, Diário do Centro do Mundo

'O movimento punk surgiu em meados dos anos 70 quase que simultaneamente entre várias grandes metrópoles, principalmente em Londres e Nova Iorque. Há versões diversas para o surgimento do movimento, e até há os que consideram punks os rebeldes dos anos 50 e 60 (“punk” significa algo como “moleque” em inglês).

Mas foi nos anos 70 que apareceram os primeiros “ativistas” punks por assim dizer, num movimento de contra-cultura em oposição aos hippies. Essa turma era embalada pelo pessoal que fazia um rock cru, simples, agitado e acelerado – The Stooges, New York Dolls e até mesmo o Velvet Underground, que tinha seus momentos mais tranquilos.

Nesse cenário, no fim da década, surgem quatro bandas quase que ao mesmo tempo. Três delas em Londres e uma em Nova Iorque. As inglesas eram os Sex Pistols, The Clash e The Damned. A americana era os Ramones.

Os Ramones, como grande parte de seus contemporâneos, foram vítimas de sua própria criação. O estilo de vida punk, como os artistas da era pré-punk já cantavam, vinha num pacote famoso: sexo, drogas e rock&roll.

As músicas que retrataram o lifestyle, como “Beat On The Brat” (Bate No Fedelho) ou “Now I Wanna Snif Some Glue” (Agora Quero Cheirar Um Pouco De Cola) não apenas retrataram, mas fomentaram a atitude punk, para o bem e para o mau.

os Ramones, Tommy em primeiro plano
Joey Ramone era o líder e dividia as criações com o baixista Dee Dee. Ele não era dos punks mais junkies, mas bebia, em certos momentos em excesso. Foi o primeiro a morrer, em 2001, de câncer.

Dee Dee Ramone, o baixista, foi o primeiro caso de vício notável em cocaína, heroína e psicotrópicos. Deixou a banda no meio de uma turnê para ser substituído por alguns músicos que não duraram, até que C. J. Ramone assumisse definitivamente.

Dee Dee foi o segundo Ramone morto, em 2002. Ele sim, vítima direta do vício: sua morte foi atribuída a uma overdose de heroína.

Johnny Ramone, o mais brilhante guitarrista ruim da história, morreu em 2004, também vítima de câncer. Johnny, que em algum momento foi um jovem anarquista, mas que numa aparição histórica em 2002 agradeceu a administração de George W. Bush nos EUA, foi co-fundador da banda, esteve com ela do começo ao fim e moldou a guitarra punk.

Tommy, algumas décadas depois
E então hoje é anunciada a morte de Tommy Ramone, o último Ramone “original” vivo, também de câncer.

Tommy não foi exatamente um original, por isso as aspas. Os originais eram Joey, Dee Dee e Johnny. Joey na bateria e Dee Dee cantando. Mas Dee Dee não conseguia tocar baixo e cantar ao mesmo tempo, e Joey era Joey, o estranho, o maravilhoso Joey. Então Tommy entrou na bateria.

Ele fez os três primeiros discos, “Ramones” (1976), “Leave Home” (1977) e “Rocket To Russia” (1978). Nesse período,  definiu o estilo dos Ramones de bateria, com a condução em colcheias, que seria copiado por seu sucessor, Marky, durante décadas.

Tommy deixou a banda depois de gravar “Rocket To Russia” alegadamente por diferenças com Johnny, mas ele admitiu posteriormente que sofria de depressão e stress, e a briga fora apenas a gota d’água.

São três mortes de câncer e uma de overdose. É possível que tenha havido influência indireta do uso de álcool e outras drogas nesses cânceres. É possível que a agitação e o stress também tenham contribuído. Ou simplesmente foi resultado de um azar genético.

É improvável que todas as três mortes de câncer tenham sido caudadas pura e simplesmente pelo infortúnio.

Sid Vicious, cantor e baixista do Sex Pistols em alguns dos primeiros singles gravados, morreu aos 21 anos. Os Ramones, entre os 50 e 60. A conta, cedo ou tarde, chega. Pra todos nós.

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