A jornada cativante de Ethan Hawke e Ellar Coltrane |
Orlando Margarido, CartaCapital
O americano Richard Linklater é um diretor de
expedientes incomuns. Se usa a animação, o faz numa técnica diretamente
sobre os atores, como em Waking Life (2001). Se
investiga como seria o relacionamento amoroso, e trivial, entre um homem
e uma mulher por décadas, leva a questão a sério e dilata o tempo na
mesma medida.
Sua trilogia das fases de vida do casal começa em 1995 com Antes do Amanhecer e termina com Antes da Meia-Noite,
realizado no ano passado, sempre com a mesma dupla de atores. Como se
deveria supor, então, o também difícil crescimento e maturidade de um
rapaz? A resposta vem prodigiosa em Boyhood, projeto que garantiu a Linklater o Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano, como Melhor Diretor.
Para compor a trajetória do protagonista Mason da infância
à juventude, Linklater fez o impensável numa indústria movida a prazos e
orçamentos. Filmou Ellar Coltrane dos 5 aos 18 anos a fim de acompanhar
descobertas e percalços relativos às idades. "Foram 39 dias de filmagem
em uma produção de 4.200 dias, de julho de 2002 a outubro de 2013",
contou.
O feito não se esgota no recurso técnico. Amplia-se a um
contexto dramático e mesmo social na medida em que esboça uma cultura
texana de onde provém o realizador. Assim, do trauma
dos pais separados (Patricia Arquette e Ethan Hawke), vemos Mason
evoluir na busca de um rumo, nas dúvidas e aflições significativas para
ele, mas naturais a todos. Pelo viés inesperado do formato, Linklater
tornou o quadro mais sincero e cativante.
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