Marion Cottilard, contra tudo e todos |
Orlando Margarido, CartaCapital
Dois Dias e Uma Noite
Jean-Pierre e Luc Dardenne
Quando o inferno já parece estabelecido em Dois Dias e Uma Noite, drama
de Jean-Pierre e Luc Dardenne com estreia prevista para quinta 5, os
fatos aludem a novas aflições. No quadro inicial, Sandra (Marion
Cottilard, soberba) é a funcionária de indústria belga que precisa
reverter a demissão no prazo de um fim de semana. Para tanto, ela tem de
convencer os colegas a não aceitar o bônus da empresa em troca do corte
de uma vaga, a sua. Disposta a reintegrar-se, sai sob sol escaldante de
verão e bate na porta de todos. Mas se há humilhação, há outros dilemas
em relevo, como a ética, o direito de tal reivindicação e a consciência
solidária.
Não é pouco trabalhar com esses aspectos
em um mesmo contexto dramático. Os Dardenne, ao consumar seu interesse
pela discussão da ferocidade capitalista em seu reverso, dos excluídos
ou se tanto subjugados, aprofundam o painel. A protagonista sofre de
depressão. No tratamento, seu trabalho seria valioso para superar o
problema. A relação familiar também não vai bem, e o apoio do marido
(Fabrizio Rongione) na peregrinação aguça a crise no casamento.
Mas os diretores não isolam sua heroína
da dimensão social. Numa Bélgica de fama de bem-estar coletivo e
privilégios, os interlocutores de Sandra não são o retrato da sociedade
ideal. Para eles, o dinheiro a mais pode significar a reforma da casa
tão sonhada, a sobrevivência, o medo da reação do marido ou o
temor de um imigrante em se ver expatriado. É um filme voltado aos
modestos, dos pequenos e frágeis elos numa engrenagem que os quer
engolir, como se verá no impasse final. Por isso mesmo grandioso."
Confira abaixo o trailer do filme:
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