Lula recebe um prêmio na presença de João
Roberto Marinho(E), em 2004
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Redação, Correio do Brasil
“A pauta do recente encontro entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente das Organizações Globo João Roberto Marinho, confirmado pela assessoria do Instituto Lula, vazou nesta sexta-feira em um blog na internet e revela o desespero da maior organização midiática de ultradireita na América Latina com a força das manifestações de rua, que cobram o fim do monopólio nas comunicações e o pagamento de impostos devidos pela emissora à Receita Federal. Pressionada por mais um protesto, convocado para esta sexta-feira, em frente às suas instalações, na capital paulista, e pela queda no faturamento devido ao aumento significativo da audiência na internet, a empresa visava o abrigo de um dos maiores ícones das esquerdas no país.
Segundo o titular do blog Conversa Afiada, o jornalista Paulo Henrique Amorim (PHA), Marinho “foi ao Presidente Lula pedir ajuda contra o Google”. Citando fonte, o também apresentador de um jornal noturno na Rede Record, principal adversária da Rede Globo na TV aberta, afirmou que “a publicidade está numa situação tal que pode provocar uma crise” no setor, que reúne a mídia conservadora no país e é conhecido, por sua atuação política, como Partido da Imprensa Golpista (PIG). Seu interlocutor não disse, mas “imagina-se que o Lula deva ter achado ótimo”, comentou o colunista.
Depois de culpar o Google, maior mecanismo de buscas e difusor de publicidade na web, no mundo, pela queda na arrecadação dos veículos de comunicação que controla no país, segundo PHA, “filho do Roberto Marinho – segundo esse passarinho inconfidente – passou a ‘espinafrar’ a Dilma. Que a Dilma isso, que a Dilma aquilo, e, além do mais, a Dilma não o recebe – não recebe o filho do Roberto Marinho”.
“E, aí, amigo navegante, a bomba! O filho do Roberto Marinho pediu ao Lula para voltar. ‘Volta, Lula, volta, pelo amor de Deus! Mas, como? indagou o Lula”, segundo a fonte.
– Vocês me espinafraram todo dia e você vem aqui me pedir para voltar? – teria questionado o ex-presidente
– Mas, você é diferente, Lula, respondeu o filho do Roberto Marinho. Você é um estadista – disse João Roberto Marinho, segundo o jornalista.
“O filho do Roberto Marinho foi embora sem uma gota de esperança”,
acrescenta PHA. Após a saída do visitante, Lula teria comentado com a fonte:
– Esses caras me esculhambam o tempo todo e agora querem que eu volte. Ora, vai …
Temor justificado
Ainda segundo PHA, Marinho tem razões de sobra para estar assustado com o crescimento do Google no país. Recentemente, a agência norte-americana de publicidade Omnicom, a segunda do mundo, associou-se à francesa Publicis para se tornar a primeira do mundo, em uma tentativa de enfrentar o Google, que se tornou, de fato, a maior agência mundial de publicidade. “O Google é o maior destinatário de publicidade do Brasil, depois da Globo”, constata PHA.
Atualmente, segundo projeções de analistas do setor, a internet detém 15% da verba de publicidade do Brasil mas, na próxima década, chegará aos 50%. O Google paga em dólares aos proprietários dos sites na internet e, na soma de publicidade no Google, no Youtube e Twitter, a conta já se aproxima do faturamento da Globo. Sem os 75% a 80% do mercado publicitário na tevê aberta, como ocorre hoje no Brasil, o modelo de negócios da Globo naufraga, segundo PHA.
“Não tem como pagar US$ 300 mil de capítulo de novela, três novelas no ar, novas, por dia, 365 dias por ano. Nem R$ 15 milhões por mês de salário a atores que não estão no ar. Um dia, o SBT e a Bandeirantes procuraram o presidente Fernando Henrique (…) para que o capital estrangeiro entrasse na indústria da tevê brasileira”, lembra o jornalista. FHC, diante do pedido, teria dito a um diretor da Band que ele próprio não tinha como enfrentar a Globo, que eles fossem ao Congresso lutar por isso.
“Quando a Globo quebrou, ela precisou de capital estrangeiro no cabo e o FHC deu. Quando o presidente Lula assumiu, a Globo estava quebrada. O PT poderia, ali, quebrar a espinha da Globo. O Ministro Palocci, de inúmeros serviços prestados ao neolibelismo pátrio e à indústria de supermercados salvou a Globo. Foi ali que a Globo começou a sonegar Imposto de Renda. E até hoje não mostrou o DARF (recibo do pagamento dos impostos devidos em um rumoroso processo judicial que monta cerca de R$ 1 bilhão)”, escreveu o jornalista.
Concentração absurda
A própria Secretaria da Comunicação (Secom)
da presidência da República, responsável pelo investimento publicitário das
verbas do governo federal, autarquias e empresas estatais, publicou
recentemente um texto no qual questionava as críticas realizadas por pequenas
empresas de comunicação e empreendedores individuais, entre eles blogueiros,
acerca dos seus critérios na aplicação dos recursos públicos em publicidade. Não
ficou sem resposta. A associação dessas pequenas empresas de comunicação, com
representatividade em todo o país (Altercom) tem defendido os interesses da sua
base e proposto entre outros pontos que se estabeleça como política a
destinação de 30% das verbas publicitárias às pequenas empresas de comunicação.
Pratica adotada em outros setores da economia, como na compra de alimentos para
a merenda escolar. E também em outros países onde a pluralidade informativa é obrigação
do Estado, inclusive do ponto de vista do financiamento.
Leia, adiante, a nota da Altercom:
“Em nome da qualidade do debate
democrático, a Altercom utilizará os números do estudo divulgado pela Secom
para defender sua tese de que a política atual do governo federal está
fortalecendo os conglomerados midiáticos, não garante a pluralidade informativa
e mais do que isso não reflete os hábitos de consumo de comunicação e
informação do brasileiro. Tem como única referência os parâmetros das grandes
agências de publicidade e seu sistema de remuneração onde o principal elemento
é a Bonificação por Volume (BV).
A partir disso, seguem algumas observações
que têm por base os números do estudo publicado e assinado pelo secretário
executivo da Secom.
- Em 2000, ainda no governo FHC, o meio
televisão representava 54,5% da verba total de publicidade que era de 1,239
bilhão. Em 2012, esse percentual cresceu para 62,63% de uma verba de 1,797
bilhão. Ou seja, houve concentração de verba em TV mesmo com a queda de
audiência do meio e o fortalecimento da internet.
- Em 2011, os grandes portais receberam
38,93% das verbas totais de internet. Em 2012, os grandes portais passaram a
receber 48,57% deste volume. Mesmo com a ampliação da diversidade na rede a
Secom preferiu a concentração de recursos.
- Também de 2011 para 2012, a Rede Globo aumentou
sua participação no share de Tvs. Saiu de 41,91% em 2011 para 43,98% no ano
passado.
- Se a Secom utilizasse como base o que a
TV Globo recebeu da sua verba total ano a ano, o resultado seria desprezível do
ponto de vista da desconcentração como defendido a partir do estudo. Em 2000 a TV Globo teve 29,8%
do total da verba da Secom e em 2012 esse percentual foi de 27,5%. Neste número
não estão incluídas as verbas para TV fechada, que eram de 2,95% em 2000 e
passaram para 10,03% do total do meio TV em 2012. Nesse segmento, provavelmente
a maior parte dos recursos também vai para veículos das Organizações Globo que
ainda tem expressivos percentuais dos recursos para jornais, rádios, revistas,
portais etc.
- Utilizando os dados da Secom também é
possível chegar a conclusão de que em 2000, a TV Globo ficava com aproximadamente 370
milhões das verbas totais de publicidade do governo federal. Em 2012, esse
valor passou a ser de aproximadamente 495 milhões.
- O secretário executivo da Secom também afirma
que houve ampliação do número de veículos programados de 2000 para 2012, o que
a Altercom reconhece como um fato. Essa ampliação foi significativa, mas no
texto não é informado qual a porcentagem do valor total destinado a esses
veículos que antes não eram programados.
- Por fim, no estudo o secretário parece
defender apenas o critério da audiência quantitativa como referência para
programação de mídia. Sendo que a legislação atual não restringe a distribuição
das verbas de mídia ao critério exclusivo de quantidade de pessoas atingidas. Aponta,
por exemplo, a segmentação do público receptor da informação e o objetivo do
alcance da publicidade, entre outras questões. E é notório também que a
distribuição dos recursos deve considerar a qualidade do veículo programado e a
sua reputação editorial.
Considerando que a Secom está disposta ao
diálogo, o que é bom para o processo democrático, a Altercom solicita
publicamente e por pedido de informação que será protocolado com base na
legislação vigente, os seguintes dados.
- A lista dos investimentos em todas as
empresas da Organização Globo no período do estudo apresentado pela Secom (2000 a 2012).
- O número de veículos programados pela
Secom ano a ano no período do estudo (2000 a 2012)
- Quanto foi investido por cada órgão da
administração direta e indireta no período do estudo (2000 a 2012).
- Quais foram os 10 veículos que mais
receberam verbas publicitárias em cada órgão da administração direta e indireta
em cada meio (TV, rádio, jornais, revistas, internet etc) no período do estudo
(2000 a
2012).
- A curva ABC dos veículos e investimentos
realizados pela Secom. Ou seja, o percentual de verbas aplicadas nos 10 maiores
veículos, nos 100 maiores e nos demais no periodo de 2000 a 2012.
- O que justifica do ponto de vista dos
hábitos de consumo da comunicação a ampliação do percentual de verbas
publicitárias de 2000 para 2012 no meio TV.
- O sistema e o critério de classificação e
ranqueamento que estaria sendo utilizado pela Secom para programação de mídia.
A Altercom tem outras ponderações a fazer a
partir do estudo apresentado, mas confiando na postura democrática da atual
gestão avalia que os pontos aqui levantados já são suficientes para que o
debate seja feito em outro patamar.
Reafirmamos nossa posição de que a
distribuição das verbas publicitárias governamentais não pode atender apenas a
lógica mercadista. Elas precisam ser referenciadas nos artigos da Constituição
Federal que apontam que o Estado brasileiro deve promover a diversidade e a
pluralidade informativa.
A Altercom também reafirma a sua sugestão
de que a Secom deveria adotar o percentual de 30% das verbas publicitárias para
os pequenos veículos de informação, o que fortaleceria toda a cadeia produtiva
do setor da comunicação. E colocaria o Brasil num outro patamar democrático,
possibilitando o fortalecimento e o surgimento de novas empresas e veículos
neste segmento fundamental numa sociedade informacional”.
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