"Cinema e socialismo foram colegas de escola no princípio do século
XX. Às vezes juntos, cresceram, apaixonaram-se, magoaram-se,
desiludiram-se e continuaram a aprender.
Após uma primeira experiência com 35 títulos, aqui fica o um
catálogo a 50, alargado pelas críticas e sugestões de largas dezenas de
leitores. Esta lista, inevitavelmente incompleta e truncada de
injustiças, resgata da História do Cinema as melhores e mais belas
encarnações dos ideais da (e não de) esquerda. Convidados, ficam os
leitores a sugerir na caixa de comentários as obras que aqui faltam e a
propor a alteração deste ordenamento.
50º Capitalismo, uma História de Amor (Capitalism, a Love Story)
País: Estados Unidos da América
Ano: 2009
Realizador: Michael Moore
Esta história de amor é o retrato da crise do capitalismo a partir
do seu próprio berço. De Michael Moore, também poderíamos incluir Sicko
ou Bowling for Columbine, mas Capitalismo corresponde ao zénite da
evolução ideológica do realizador norte-americano, não acabasse o filme
ao som da Internacional. Mas sobretudo, o documentário perfaz a lista
pelos relatos dramáticos dos trabalhadores que pagam na pele o preço do
amor dos EUA pelo capitalismo.
49º Machuca
País: Chile
Ano: 2004
Realizador: Andrés Wood
Chile, 1973. Dois rapazes são unidos pela amizade e separados pelas
classes sociais. Este é um filme sobre a adolescência, com toda a
esperança e violência que ela comporta e, por isso mesmo, a melhor lente
sobre a História recente do Chile. Mas Machuca é muito mais do que uma
rara janela para a experiência socialista de Allende e uma crítica à
podridão da burguesia que engendrou Pinochet. É por direito, um dos
melhores filmes chilenos alguma vez produzidos.
48º As Actas de Marusia (Actas de Marusia)
País: México
Ano: 1975
Realizador: Miguel Littín
Por muitos considerada melhor película mexicana de sempre, As Actas
e Marusia contam a história verdadeira do massacre que ocorreu na
cidade mineira que dá o nome do filme. O enredo pode parecer
deprimentemente aborrecedor: em 1907 os mineiros do salitre de Marusia,
no norte do chile, organizam uma greve e são confrontados com a mais
violenta repressão. Na verdade, As Actas de Marusia é a mesma história
contada com uma originalidade refrescante. Littín presta-se a liberdades
artísticas que só muito mais tarde seriam consagradas como estilo. A
poesia que perpassa o guião, os belíssimos planos distantes, a narração
em voz-off e a banda sonora de Mikis Theodorakis impõem este grandioso
filme na lista dos melhores filmes da esquerda.
47º The Black Power Mixtape 1967-1975
País: Suécia e EUA
Ano: 2011
Realizador: Göran Olsson
Entre 1967 e 1975 um grupo de jornalistas suecos percorreu os EUA
para capturar a quase-revolução do movimento afro-americano. A qualidade
e interesse histórico destas imagens e a profundidade das entrevistas
com os membros mais destacados do Partido Pantera Negra fazem parecer
impossível que as mais de 200 horas de imagens se tenham perdido numa
cave da Televisão Sueca. Até agora. The Black Power Mixtape entrecorta o
belíssimo filme de há quarenta anos com o comentário cortante de
artistas, activistas e académicos da comunidade afro-americana
contemporânea e muita música negra. Um documentário essencial para
compreender as potencialidades e contradições do Poder Negro americano.
46º Cabra Cega
País: Brasil
Ano: 2005
Realizador: Toni Venturi
Cineastas brasileiros ofereceram mais à causa socialista do que
qualquer outra nacionalidade sul-americana. Poderíamos falar dos grandes
nomes do Cinema Novo, de Glauber Rocha a Cacá Diegues ou de filmes mais
recentes, de Para a Frente Brasil a Eles não Usam Black Tie, que
irradiam um brilho tão brasileiro como a moqueca e o feijão com arroz.
Mas Cabra Cega, embora injustamente relegado ao ilustre desconhecimento,
é um dos filmes mais interessantes e originais sobre a ditadura
militar. O Che dizia que numa revolução ou se vence ou se morre, mas
essa opção não tem Thiago, militante de uma organização armada, que é
ferido e obrigado a se esconder numa casa clandestina. A sua prisão
domiciliária é palco de diálogos enternecedores e para memórias
tenebrosas que se desenrolam entre o pavor da prisão e da tortura e a
paixão de Rosa, que confirma o axioma: a mulher que luta é mesmo a mais
bonita. E já disse que a banda sonora tem Chico Buarque?
45º Os Edukadores (Die Fetten Jahre sind Vorbe)
País: Alemanha e Áustria
Ano: 2004
Realizador: Hans Weingartner
Uma estudante universitária tem um pequeno acidente de carro. Até
aqui tudo bem. Acontece que não tinha seguro. Menos bem. E a isto
acresce que o tipo do carro da frente, não é nem mais nem menos que um
dos maiores bilionários do país e que os danos provocados valem dezenas
de milhares de euros. Condenada em tribunal a pagá-los por inteiro, a
jovem é forçada a deixar os estudos e a aceitar empregos precários por
salários de miséria. Mas quando não se tem nada, também não se tem nada a
perder. Os Edukadores correspondem o terror dos capitalistas na mesma
medida. Como? A) Entrar furtivamente nas mansões dos ricos B) Criar
pirâmides com toda a mobília e alterar toda a configuração da casa. C)
Deixar uma nota: “Os vossos dias de abastança acabaram”.
44º As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath)
País: Estados Unidos da América
Ano: 1940
Realizador: John Ford
O clássico de Steinbeck encontra uma justa homenagem nesta
adaptação de John Ford. As Vinhas da Ira conta a história de uma família
de camponeses que, expulsa pelos latifundiários das terras onde viviam e
trabalhavam, é forçada a uma longa viagem rumo à Califórnia em busca de
trabalho. Pelo caminho, encontram a fome e a discriminação, mas também a
solidariedade, a consciência de classe e a dignidade.
43º Os Companheiros (I Compagni)
País: Itália
Ano: 1963
Realizador: Mario Monicelli
Monicelli pintou em Os Companheiros um fresco sobre as lutas
sociais na Itália do fim do século XIX. Numa fábrica de Turim, um
acidente laboral com contornos criminosos é a última gota para os
trabalhadores. Uma espiral de repressão e resistência leva os
humaníssimos operários a subir a parada para um nível que surpreende
tanto o patrão como o espectador. Mas o mais original é a fluidez do
guião, o sentido de humor que Monicilli injecta em todas as cenas e a
desentorpecida imperfeição como que todos os personagens (com destaque
para Marcello Mastroianni) se movem por temas sérios.
42º O Pequeno Grande Homem (Little Big Man)
País: EUA
Ano: 1970
Realizador: Arthur Penn
Este um filme de cowboys anti-racista com um sentido apurado de
justiça poética: a história ora divertida, ora trágica da guerra entre
as várias identidades de um homem. Aos 121 anos, Jack Crabb descreve-nos
a sua viagem pela História dos EUA como uma luta constante por se
manter à tona de sucessivas marés de intolerância. Criado por nativos
americanos, Jack parece não se conseguir adaptar ao mundo dos invasores
brancos, onde apenas encontra ódio, medo e violência. Dustin Hoffman é
brilhante: consegue arrancar a nossa simpatia por um personagem
aparentemente volátil e superficial e torna impossível não chegar o fim
do filme com um profundo desprezo pela homofobia, o racismo, o machismo e
a guerra.
41º A Culpa é de Fidel (La Faute à Fidel)
País: França
Ano: 2006
Realizador: Julie Gavras
A Culpa é de Fidel, de Julie Gavras, a filha do mestre Costa-Gavras
é a história ternurenta do ritual de passagem de Anna (Nina
Kervel-Bey), uma menina parisina de 9 anos que, de repente, vê o seu
estilo de vida pequeno-burguês devassado pela radical transformação
ideológica dos pais. A pequena resiste à opção comunista dos pais com
argumentos inteligentíssimos e, muito à semelhança de O ano em que os
meus pais saíram de férias, constrói à sua volta um ambiente de sonho e
inocência apenas quebrado pelos geniais e improváveis diálogos sobre
política, sexo e família.
40º Sambizanga
País: Angola
Ano: 1973
Realizador: Sarah Maldoror
Sambizanga arruma com o mito do “brando colonialismo português”
numa clara e inequívoca afirmação da estética e cultura africanas.
Domingos, militante do MPLA, é sequestrado pela PIDE e torturado durante
vários dias. Entretanto, a sua família procura-o desesperadamente entre
o desespero do povo angolano. Filmado no Congo com guerrilheiros do
MPLA e do PAIGC na maioria dos papéis e baseado na obra de José Luandino
Vieira, Sambizanga é um dos mais poderosos filmes anti-coloniais de
todo o continente africano.
39º Sacco e Vanzetti
País: Itália e França
Ano: 1971
Realizador: Giuliano Montaldo
Sacco e Vanzetti é uma arma carregada de humanismo. A história dos
dois anarquistas italianos condenados à cadeira eléctrica por um
tribunal estado-unidense é surpreendente e apaixonante. O compromisso
político e a simpatia pela causa dos anarquistas é assumida frontalmente
do princípio ao fim, sem cair na caricatura nem na propaganda. Ennio
Morricone e Joan Baez oferecem o melhor das suas longas carreiras à
banda sonora deste filme que devia fazer parte da educação política de
todos nós.
38º Clube de Combate (Fight Club)
País: Estados Unidos da América
Ano: 1999
Realizador: David Fincher
Quando o capitalismo não nos mata de fome, mata-nos de
aborrecimento. O Narrador, magnificamente interpretado por Edward
Norton, consome-se entre catálogos IKEA e a voragem da rotina. Alienado
do seu próprio trabalho, da sociedade e de si próprio, conhece Tyler
Durden um perigoso maníaco que pretender explodir o mundo financeiro.
Muita tinta já correu sobre o Clube de Combate, que tal como o
livro homónimo, já foi acusado de proto-fascista, sexista e niilista.
Mas como dizia Saramago, todas as histórias se podem contar de outra
maneira.
37º Doutor Estranhoamor (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb)
País: Estados Unidos da América
Ano: 1964
Realizador: Stanley Kubrick
Poucas etiquetas políticas cabem na lapela de Kubrick mas Doutor
Estranhoamor é em si mesmo, um manifesto político. Rodada no auge da
guerra fria, quando a sombra de um holocausto nuclear pairava sobre as
cabeças de toda a humanidade, esta sátira expõe ao ridículo a lógica
anti-comunista da América do senador McCarthy. Curiosamente, 50 anos
mais tarde, os EUA estão de novo no centro de uma escalada de
provocações nucleares. A única diferença, é que ainda não acusaram os
coreanos de querer envenenar o abastecimento de água dos EUA.
36º Inside Job - A Verdade da Crise (Inside Job)
País: Estados Unidos da América
Ano: 2010
Realizador: Charles Ferguson
Inside Job - A Verdade da Crise, obra prima de Ferguson, é um
documentário que todos deveríamos ver. Num momento em que os desejos e
caprichos do Deus-Mercado são cada vez mais descritos como insondáveis e
ininteligíveis pelos comuns mortais, este filme explica as origens da
crise capitalista que hoje vivemos de uma forma brilhante. Ferguson
entrevista os maiores responsáveis directos pela crise, encosta-os à
parede e faz o nosso sangue ferver.
35º A Batalha do Chile (La Batalla de Chile)
País: Chile
Ano: 1978-1980
Realizador: Patricio Guzmán
A Batalha do Chile é justamente considerado o melhor documentário
latino-americano de todos os tempos. Justamente. No total, são quatro
horas e meia de História com H grande, centrada na luta dos
trabalhadores, nas conquistas da sua revolução e na resistência ao
fascismo. Mas nenhuma das três partes que compõem A Batalha do Chile são
filmes de arquivo: tudo foi filmado no momento e no local. O operador
de câmara Jorge Müller Silva foi sequestrado pela polícia de Pinochet
durante as filmagens e é um dos 3000 chilenos que continuam
desaparecidos.
34º O Complexo Baader Meinhof (Der Baader Meinhof Complex)
País: Alemanha
Ano: 2008
Realizador: Uli Edel
O Complexo Baader Meinhof é a crónica da organização armada alemã
Facção do Exército Vermelho nas décadas de sessenta e setenta. Um filme
repleto de acção que se serve de uma narrativa consistente, boas
actuações e uma direcção eficaz para conseguir algo extremamente
difícil: um retrato desapaixonado mas honesto sobre o idealismo, a
legitimidade da luta armada, o esquerdismo e as ilusões e desilusões de
toda uma geração.
33º Norma Rae
País: Estados Unidos da América
Ano: 1979
Realizador: Martin Ritt
Tal como todos na sua família e nesta pequena cidade da Carolina do
Norte, Norma Rae (uma impecável Sally Field) trabalha na fábrica de
algodão. Recebe o salário mínimo e parece condenada a aceitar todas as
condições que o patrão lhe impõe. Até que um dia, chega Reuben
Warshowsky (Ron Leibman), um sindicalista decidido a organizar os
trabalhadores da fábrica. Baseado em factos reais, Norma Rae é uma
homenagem despretensiosa à classe operária americana como ela é e à luta
que tem em comum com os trabalhadores do mundo.
32º Cinco Dias, Cinco Noites
País: Portugal
Ano: 1996
Realizador: José Fonseca e Costa
José Fonseca e Costa consagrou-se neste filme como um dos mais
competentes realizadores portugueses. Cinco Dias, Cinco Noites é uma
espantosa e fidedigna viagem ao Portugal dos anos 40. Conta a viagem de
um preso político evadido que procura cruzar a fronteira com a ajuda de
um intratável “passador”. A antipatia entre os dois homens dá lugar a
uma bela amizade nesta excelente adaptação ao cinema do romance homónimo
de Manuel Tiago, pseudónimo de Álvaro Cunhal.
31º O Fim de São Petersburgo (Конец Санкт-Петербурга)
País: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Ano: 1927
Realizador: Vsevolod Pudovkin
Um camponês desempregado chega a São Petersburgo à procura de
trabalho. Sem querer, acaba por denunciar um velho amigo à polícia, que o
envia para a frente de batalha da I Guerra Mundial. O Fim de São
Petersburgo é poesia celuloide em estado puro, 80 minutos de beleza
intensa e golpes poderosos. É o irmão gémeo do famoso Outubro de
Eisenstein mas ao contrário deste, que se centra nas massas, Pudovkin
dedica-se ao indivíduo e à sua importância na revolução, sem nunca no
entanto o demitir da sociedade, da sua classe e do seu partido.
30º Os Santos Inocentes (Los Santos Inocentes)
País: Espanha
Ano: 1984
Realizador: Mario Camus
Ver Os Santos Inocentes é como entrar num museu cheio de Goyas. As
cenas lúgubres, cinzentas e magistralmente bem compostas podem-nos fazer
duvidar do século em que o filme tem lugar, mas esta família espanhola
sobrevive sem água nem electricidade nos vizinhos anos 60. O arcaísmo do
latifúndio como ele é: um sistema medieval onde os caprichos dos
senhores valem mais que a vida dos camponeses; Mas até nesta enorme
prisão a céu aberto que reduz mulheres e homens a cães de caça
(literalmente), todas as criaturas têm um limite.
29º O Que É Isso, Companheiro?
País: Brasil
Ano: 1997
Realizador: Bruno Barreto
A realização é delicada, o texto é vigoroso e os personagens são
cativantes. Um dos melhores filmes alguma vez produzidos no Brasil
reconta a história verídica do rapto do Embaixador norte-americano no
Brasil pelo MR-8 e pela ALN. O enredo consistente ganha a moldura de uma
embalagem técnica de excelência, da fotografia à direcção de arte
passando pela direcção minuciosa das explosivas cenas de acção. Tudo em O
Que É Isso, Companheiro? é motivo de orgulho para o cinema brasileiro:
uma obra prima sobre resistência, rebeldia e redenção.
28º Queimada
País: Itália
Ano: 1969
Realizador: Gillo Pontecorvo
Um provocador inglês enviado à ilha fictícia de Queimada para
incitar uma revolta de escravos contra o colonialismo português. Os
ingleses servem-se dos sentimentos independentistas dos escravos para se
apropriarem eles próprios do comércio do açúcar, mas a revolta dos
escravos ganha pernas próprias e prova-se difícil de controlar. Marlon
Brando é irrepreensível no papel de William Walker, um cínico mercenário
inglês que compreende demasiado bem a lógica do lucro e a desumanidade
do colonialismo para lhes ser indiferente.
27º Matewan
País: Estados Unidos da América
Ano: 1987
Realizador: John Sayles
Este filme é uma refrescante surpresa de Hollywood, que com um
elenco salpicado de estrelas (Chris Cooper, James Earl Jones, Mary
McDonnell, etc.) e numa linguagem típica dos blockbusters, narra a
Batalha de Matewan, na Virgína Ocidental, com acuidade histórica e
destemido comprometimento político. O argumento centra-se na chegada de
Joe Kenehan, sindicalista e comunista, à pequena comunidade mineira de
Matewan, onde se dará uma batalha de classes pela dignidade e contra o
racismo, o capitalismo e a exploração do homem pelo homem.
26º Também a Chuva (También la Lluvia)
País: Espanha, México, Bolívia e França
Ano: 2010
Realizador: Icíar Bollaín
Um dos filmes mais inteligentes dos últimos anos, cheio de
subtilezas e resultado da colaboração de pesos pesados da sétima arte
como o guionista Paul Laverty e os actores Gael García Bernal e Luis
Tosar. Com apurada sensibilidade, Icíar Bollaín apresenta-nos uma equipa
de rodagem espanhola que ruma à Bolívia para, ao mais baixo preço,
filmar um documentário sobre a chegada de Cristóvão Colombo à América.
Paulatinamente, o guião do documentário, que narra a história do
genocídio e resistência dos indígenas, inspira e reflecte uma luta de
vida ou morte contra a privatização da água, em que os índigenas
contratados como extras se decidem a ser, de uma vez por todas,
protagonistas da sua própria História. Uma bela história, sobre um povo
ajoelhado que aprende a caminhar.
25º Os Diários de Motocicleta (Diarios de motocicleta)
País: Argentina, Chile, EUA, Peru, França. Alemanha e Reino Unido
Ano: 2004
Realizador: Walter Salles
Baseado nos diários do Guerilheiro Heroico, este filme biográfico
consegue a proeza rara de contar a travessia trans-americana do jovem
Ernesto de acordo com a máxima do mesmo: duramente, mas sem perder a
ternura. Produção internacional de uma rara beleza, Os Diários de
Motocicleta mostram uma América explorada e ajoelhada, mas igualmente o
profundo amor dos comunistas à humanidade, ao ponto de morrer por ela e
também de nos fazer chorar.
24º Salmo Vermelho (Még kér a nép)
País: Hungria
Ano: 1972
Realizador: Miklós Jancsó
Salmo Vermelho é arrebatador. Um tratado sobre o simbolismo
socialista e a essência espiritual do comunismo. Baseado nas revoltas
populares húngaras do fim do século XIX, o mestre Jancsó fala-nos sobre o
trabalho e a canseira, o trigo e o sangue, a humilhação e a raiva.
Poder-se-ia dizer que Salmo Vermelho é a adaptação ao cinema dos quadros
de Álvaro Cunhal e o filme que Kusturica faria se fosse comunista:
filmado em apenas vinte e seis planos (praticamente de rajada), leva-nos
a uma eira onde camponeses dançam em grandes rodas e cantam canções de
amor e de revolta. Nada neste filme é ao acaso. A belíssima fotografia e
a magistral realização (que valeu a Jancsó a Palma de Ouro) sublimam o
retrato das mulheres mais bonitas que vi em muitos anos e gravam
indelevelmente na nossa memória a melodia infatigável dos coros
libertários.
23º Recusos Humanos (Ressources Humaines)
País: França
Ano: 1999
Realizador: Laurent Cantet
Numa entrevista, Laurent Cantet explicava o título do filme como
uma denúncia do cinismo da própria expressão "recursos humanos": a
gestão de homens e mulheres como mercadoria ou capital. Este é um filme
que nos mostra com uma autenticidade comovedora (e sem qualquer
pretensão de nos pregar seja o que for) a vida no interior de uma
fábrica actual. Cantet não se desvia nem um milímetro do trilho que nos
convida a percorrer, apresenta-nos a operários reais e burgueses como os
que conhecemos, desafia-nos a nos colocarmos no lugar do activista
intransigente, do pai de classe operária e do filho dividido entre a
simpatia pelos trabalhadores e a ambição profissional. Um dos trabalhos
mais luminosos que o cinema francês nos ofereceu na década de noventa.
22º Spartacus
País: Estados Unidos da América
Ano: 1960
Realizador: Stanley Kubrick
A pergunta já foi repetida milhões de vezes e em todas as línguas:
"Quem é Spartacus?". E os que lutam estão condenados a ter que dar a
mesma resposta: "Eu sou Spartacus". Não é mentira. Spartacus somos todos
os humilhados e ofendidos desde o escravo da Trácia, que há dois mil
anos deu guerra aos ricos e poderosos. Apesar de inserido no índex negro
dos filmes pró-omunistas, Spartacus conquistou quatro óscares da
Academia e derrotou a censura do McCarthismo. É um épico histórico que
honra o romance homónimo de Howard Fast com um guião brilhante e um
elenco de luxo, liderado por Kirk Douglas.
21º A Melhor Juventude (La meglio gioventù)
País: Itália
Ano: 2003
Realizador: Marco Tullio Giordana
Seis horas de filme não é brincadeira. Mas em A Melhor Juventude
não há nem um minuto em excesso e o resultado final prima pelo brilhante
exercício de economia. É que Giordanna está a contar-nos a história de
um grupo de amigos ao longo de 50 anos e qualquer grupo de amigos a
sério tem muito que contar. As actuações são brilhantes e o argumento é
tocante. Mas o que mais sobressai, é a honestidade com que se aborda a
história recente de Itália, das lutas dos estudantes universitários às
Brigadas Vermelhas até à diluição dos ideais socialistas. Um filme que
todos deveriam conhecer.
20º Che
País: Espanha, França, EUA
Ano: 2008
Realizador: Steven Soderbergh
O Che dizia que numa revolução, se for verdadeira, ou se triunfa ou
se morre. As duas partes deste filme revelam a crueza da guerra
revolucionária, para lá de quaisquer fantasias esquerdistas. Benicio del
Toro converte-se em Guevara com tanta arte que nada nas suas palavras,
nos seus trejeitos ou mesmo na sua aparência física o denuncia. Che é
uma sublime e original lição de humanidade, que salpica com generosidade
e comunismo os mais ínfimos detalhes de uma guerra tão sangrenta e
brutal como cada vez mais necessária.
19º Corações e Mentes
País: EUA
Ano: 1974
Realizador: Peter Davis
Um dos melhores documentários alguma vez feitos. Quem assistir a
Corações e Mentes nunca mais verá a guerra da mesma forma. A sangrenta
agressão imperialista contra o Vietname é posta completamente a nu na
sua desumanidade e pelo chão vão ficando as roupagens de hipocrisia e
cinismo com que se trajam sempre os senhores da guerra. Pudovkin dizia
que o cinema é o melhor método de aprendizagem porque nos ensina o
coração e a cabeça: apesar de amiúde brutal e chocante, Davis consegue
dar forma pictórica a à lição anti-belicista que toda a humanidade devia
aprender.
18º Estado de Sítio (État de Siège)
País: França e Itália
Ano: 1972
Realizador: Costa-Gavras
Costa-Gavras foi um dos realizadores mais politicamente
comprometidos do século passado. E também um dos melhores. Em Estado de
Sítio, o génio grego explora as brutais consequências do imperialismo
norte-americano nos regimes sul-americanos. Com Yves Montand e Renato
Salvatori nos papéis principais, o filme segue o grupo de guerrilha
urbana durante o sequestro e interrogatório de um dirigente da CIA.
Baseado no sequestro de Dan Mitrioni pelos Tupamaros uruguaios, Estado
de Sítio foi apedrejado pelos críticos de cinema dos EUA que o acusaram
de propagandear mentiras sobre o envolvimento dos EUA na promoção de
ditaduras na América do Sul. Um ano mais tarde, a CIA oferecia o Chile
para abate a Pinochet.
17º Brisa de Mudança (The Wind that Shakes the Barley)
País: Irlanda, Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha, França, Bélgica e Suíça
Ano: 2006
Realizador: Ken Loach
Da Irlanda à Colômbia, passando pelo País Basco ou pelo Vietname,
há um sentimento que predispõe povos pacíficos a se levantarem em armas
para matarem os seus irmãos. É do antiquíssimo sentimento de humilhação
que trata este filme. É pesado, triste e duro de se ver, mas
indispensável para quem pretender compreender a luta dos irlandeses pela
liberdade. Com trabalhos de fotografia e direcção de primeira classe,
Ken Loach traz-nos aos anos vinte do século XX irlandês, para conhecer o
trágico percurso de dois irmãos no IRA.
16º A Greve (Стачка)
País: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Ano: 1925
Realizador: Sergei M. Eisenstein
A primeira longa-metragem de Eisenstein faz os filmes mudos coevos
parecerem anémicos. A Greve é uma obra de arte tão original como
arriscada, que define já a finura de Eisenstein e, por corolário lógico,
a genética do cinema moderno. Ao contrário de muitos outros filmes
mudos da época, os actores não precisam de exagerar as expressões
faciais para compensar com histrionismo a incapacidade de falar.
Eisentein consegue tudo por todos os meios. Através de colagens, ângulos
de câmara loucos, rápidas sequências entrecortadas e efeitos especiais,
ficamos a conhecer a miséria dos operários russos, as suas
reivindicações, a sua corajosa luta e, por fim, a sua brutal supressão.
15º Apocalyspe Now
País: Estados Unidos da América
Ano: 1979
Realizador: Francis Ford Coppola
Um dos clássicos do cinema americano e provavelmente a melhor
adaptação ao cinema de qualquer livro. Baseado no Coração das Trevas de
Joseph Conrad, Apocalypse Now substitui o colonialismo belga no Congo
pelo imperialismo norte-americano no Vietname, denunciando a
monstruosidade da guerra e a desumanização dos soldados. Fotografado com
a mestria de Coppola, Apocalypse Now é uma poderosa metáfora sobre a
natureza humana e o mais competente dos ensaios cinematográficos sobre a
guerra.
14º Ladrões de Bicicletas (Ladri di Biciclette)
País: Itália
Ano: 1948
Realizador: Vittorio de Sica
Obra exponencial do neo-realismo italiano, Ladrões de Bicicletas
conta-nos a história de Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani), um
trabalhador desempregado que investe o que tem e o que não tem numa
bicicleta. Da bicicleta depende o seu trabalho, do seu trabalho depende a
sua sobrevivência e da sua sobrevivência depende o seu filho. As
actuações são magnificas sob a direcção graciosa de Sica, trazem-nos à
Roma do pós-guerra, mergulhada num desespero e numa desumanidade que não
pertencem nem a Itália nem aos anos quarenta, mas à sociedade dos
capitalistas.
13º Outubro (Октябрь (Десять дней, которые потрясли мир))
País: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Ano: 1927
Realizador: Sergei M. Eisenstein
Estreado no quadro das comemorações do 10º aniversário da Revolução
de Outubro, o filme Outubro é uma revolução em si próprio: a abordagem à
teoria da montagem de Eisenstein desconstrói a formalidade narrativa do
cinema convencional e introduz a edição e a pós-produção como meios de
alcançar a dialética. Esteticamente tão arrojador como o período
histórico que retrata, Outubro definiu para sempre o imaginário mundial
da revolução socialista russa.
12º Eu Sou Cuba (Soy Cuba)
País: Cuba e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Ano: 1964
Realizador: Mikhail Kalatozov
Eu sou Cuba é o impensável resultado da colaboração entre um poeta e
um realizador soviéticos, e um escritor cubano, que contam a História
de Cuba na primeira pessoa. Uma nação arrastada pelos rodapés de
historiografias estrangeiras levanta-se do chão e consegue a verdadeira
independência. Eu Sou Cuba é inacreditável, uma viagem sideral filmada
num preto e branco belissimamente fotografado. Os ângulos de câmara são
acrobáticos, os cortes são psicadélicos e a música é autenticamente
cubana.
11º O Leopardo - Il Gattopardo
País: Itália
Ano: 1963
Realizador: Luchino Visconti
O Leopardo é por direito próprio um dos melhores filmes de sempre.
Mas o grande épico de Visconti não esconde uma visão marxista da
sociedade, dividida por classes e movida pela guerra que as opõe. Para
além de uma magnífica aula sobre História da Itália do século XIX, O
Leopardo é todo um caleidoscópio de sensibilidades e opções estéticas
dos anos 60, refinadas ao nível da perfeição por um orçamento milionário
e um elenco composto por alguns dos mais talentosos actores europeus
dessa geração.
10º Reds
País: Estados Unidos da América
Ano: 1981
Realizador: Warren Beatty
Esta mega-produção de Hollywood entra no décimo lugar da lista pela
porta grande da sétima arte. Não sei o que neste filme é mais
apaixonante: as inspiradoras actuações de Jack Nicholson, Diane Keaton,
Maureen Stapleton e, sobretudo Warren Beatty no papel de John Reed (o
jornalista americano que no calor da Revolução de Outubro escreveu Os
Dez Dias que Abalaram o Mundo)? Ou o brilhante guião que nos transporta
aos loucos anos 20, às eternas discussões e contradições da esquerda e
ao mais relevante acontecimento histórico do século XX? Ou as adoráveis
entrevistas a uns improváveis e brilhantes velhinhos americanos?
9º Às Segundas ao Sol (Los Lunes al Sol)
País: Espanha
Ano: 2002
Realizador: Fernando León de Aranoa
Um monumento à classe operária como ela é e não como nós
gostaríamos que ela fosse. A história dos operários navais de Vigo, na
Galiza, a quem o capitalismo roubou o trabalho, a vida e a esperança mas
nunca a dignidade. Um filme que só não fará chorar os ricos e os
corações empedernidos que nos fala das pequenas misérias e prazeres do
povo trabalhador: a operária de peixaria que não se consegue libertar do
fedor; o imigrante de leste que conta aos amigos que na URSS era
cosmonauta; o desempregado de meia-idade que se recusa a aceitar que
ninguém lhe dá trabalho por ser velho demais; o antigo operário que
lutou, fez greves e manifestações, que perdeu e voltaria a fazer tudo
outra vez; o cínico que traiu a sua classe por uns trocos. O retrato
perfeito de quem sobrevive num eterno domingo.
8º Tempos Modernos (Modern Times)
País: Estados Unidos da América
Ano: 1936
Realizador: Charlie Chaplin
A arte de Charlie Chaplin é agarrar um argumento sem nada de
especial e num conjunto de cenas cómicas do mais simples que há e criar
uma das obras primas do cinema: uma peça de arte de valor
cinematográfico, artístico e histórico transcendente, que ressoa através
do tempo e chega aos nossos dias com a mesma autoridade. O protagonista
é um trabalhador que apenas quer levar uma vida honesta e ganhar para o
pão, mas por alguma razão, tudo lhe corre mal. Essa razão chama-se
capitalismo.
7º Horizontes de Glória (Paths of Glory)
País: Estados Unidos da América
Ano: 1957
Realizador: Stanley Kubrick
Horizontes de Glória é talvez a obra cinematográfica que melhor
personifica os ideias anti-belicistas da esquerda. A película leva-nos
às trincheiras fratricidas da I Guerra Mundial, onde seres humanos são
jogados contra a lógica no campo de batalha pelos burocratas da morte.
Quando um batalhão se recusa a avançar para uma morte certa, quatro
soldados são escolhidos para ser fuzilados como bodes-expiatórios, pondo
em marcha um debate marcante sobre o nacionalismo burguês, a autoridade
e o valor da vida.
6º O Ódio (La Haine)
País: França
Ano: 1995
Realizador: Mathieu Kassovitz
O Ódio é um murro no estômago. Nesta Paris já não mora Amélie
Poulain. Nesta França não há gente bonita a sonhar acordada entre os
cafés dos anos sessenta, os jardins renascentistas e os apartamentos
Haussmann. O Ódio é uma viagem com os excluídos da sociedade francesa,
os que cheiram mal e não gostavam da escola. Não paternaliza nem
idealiza, limita-se a seguir e a escutar os embaixadores da racaille,
que cometem pequenos crimes, enfrentam os neonazis e o desprezo da
sociedade, mantêm alguns dos diálogos mais autênticos do cinema francês
e, contra todas as expectativas, sonham.
5º Harlan County, USA
País: Estados Unidos da América
Ano: 1976
Realizador: Barbara Kopple
Como cantam os mineiros no filme, “Dizem que em Harlan County / por
lá não há neutrais. / Ou és um sindicalista / ou um arruaceiro para o
J. H. Blair. / De que lado estás, rapaz? / De que lado estás?” Este
documentário está para os anos setenta como Outubro de Eisenstein está
para os anos 20: é um autentico manual de organização de greves e um
indescritível testemunho da coragem dos mineiros americanos. Os
protagonistas desta luta, especialmente as mulheres, são tão genuínos
que reduzem as personagens de qualquer obra de ficção a meras
caricaturas. Nunca ouvi falar de quem terminasse o filme com os olhos
secos.
4º O Sal da Terra (The Salt of the Earth)
País: Estados Unidos da América
Ano: 1954
Realizador: Herbert J. Biberman
“Como posso começar a minha história que não tem começo? O meu nome
é Esperanza, Esperanza Quintero. Sou a mulher de um mineiro. Esta é a
nossa casa. A casa não é nossa. Mas as flores… as flores são nossas.
Esta é a minha aldeia. Quando eu era uma criança, chamava-se São Marcos.
Os “anglos” mudaram o nome para Zinc Town. Zinc Town, Novo México. As
nossas raízes neste lugar são profundas. Mais profundas que os
pinheiros, mais profundas que a mina”. Assim começa O Sal da Terra, que
esteve banido nos Estados Unidos até aos anos 60. Todos os envolvidos na
sua produção foram adicionados à infame lista negra do cinema
norte-americano; a protagonista foi deportada para o México e o
argumentista passou mais de um ano na prisão. Porquê? Porque este filme é
perigoso por ser simultaneamente tão belo e tão corajoso. A luta dos
mineiros norte-americanos vista de uma perspectiva de classe em que as
mulheres e os imigrantes são líderes e iguais.
3º A Batalha de Argel (La battaglia di Algeri)
País: Argélia e Itália
Ano: 1966
Realizador: Gillo Pontecorvo
A Batalha de Argel, banido em dezenas de países e censurado em
quase todos. A magnum opus de Pontecorvo não se comociona com o falso
humanismo burguês nem cede à vertigem infanto-militarista do
esquerdismo. Num corte de direcção geniais e com actores tão hábeis que
muitos espectadores acreditaram tratar-se de um documentário,
mergulhamos numa das mais sangrentas revoluções da História e somos
forçados a colocarmo-nos de um dos lados desta brutal barricada, opção
que os oprimidos nunca tiveram. Nenhuma outra narrativa cinematográfica
descreve de forma tão vívida e detalhada a revolta dos povos colonizados
e as questões que A Batalha de Argel coloca são tão válidas para a
Argélia dos anos 50 como para o Afeganistão dos nossos dias.
2º O Couraçado de Potemkin (Броненосец «Потёмкин»)
País: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Ano: 1925
Realizador: Sergei M. Eisenstein
Aos 88 anos, este filme mudo ainda não perdeu o pio. Pelo
contrário, O Couraçado de Potemkin é uma lufada de frescura e ousadia no
sapal por onde hoje paira o cinema comercial. A obra-prima de
Eisenstein, não é nem mais nem menos que a obra fundadora do cinema
moderno, tão bela como inspiradora, tão transgressora formal e
esteticamente como revolucionária politicamente. Eisenstein domina a
celuloide como Miguel Ângelo domina a pedra ou Matisse domina a cor e
consegue levar-nos a cada emoção, a cada surpresa, a cada momento de
indignação e solidariedade com tanta subtileza que só nos apercebemos do
caminho percorrido chegados ao fim da jornada. Esta é a história
verídica dos marinheiros que se recusaram a comer carne podre, porque
eram gente. Esta é a história da luta de vida ou morte que se seguiu
pela dignidade dos trabalhadores de Odessa, porque também eram gente.
Esta é a história do massacre policial que se seguiu e das vozes que não
puderam estrangular, porque, como dizia Adriano Correia de Oliveira,
ninguém pode vencer um povo que resiste.
1º 1900 (Novecento)
País: Itália, França e Alemanha Ocidental
Ano: 1976
Realizador: Bernardo Bertolucci
1900 é inigualável. Os campos da Emília-Romanha são a tela para a
metáfora acabada do que foi o século XX, onde dois rapazes e duas
classes sociais crescem e aprendem, separados por interesses
inconciliáveis. Cada fotografia deste filme é um quadro repleto de
beleza; todas as actuações, de Gérard Depardieu a Robert de Niro, são
brilhantes; a música, de Ennio Morricone, é sublime. 1900 fala sobre a
génese do fascismo, a vida dos que trabalham e a luta pelo socialismo na
linguagem comum de toda a humanidade: o amor, o ódio, a compaixão e a
solidariedade."
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