"Depois de concluir um curso audiovisual voltado para as questões
socioambientais, nove jovens, moradores do morro do Alemão, fundaram o Coletivo Mídia Verde. A
ideia do Coletivo é produzir filmes que mostram o olhar da comunidade,
preservando a linguagem da favela, com suas gírias e eventuais erros de
português. Além de ter suas próprias produções, o grupo ainda realiza
serviços de filmagens para a comunidade Nova Brasília
Juliana Alcantara, Brasil 247
Tim Burton e Steven Spielberg são alguns dos ídolos de uma turminha inquieta do Complexo do Alemão que se juntou para formar o Coletivo Mídia Verde.
A história desse grupo de nove jovens extremamente criativos teve
início em maio do ano passado. Foi nessa época que eles se matricularam
num curso de audiovisual da TV Verde, vinculada à Secretaria do
Ambiente, no Morro do Alemão.
O entrosamento e a paixão pelo cinema fizeram com que o grupo
permanecesse unido mesmo após o término das aulas, em outubro. Hoje,
além de oferecer serviços de filmagens para a comunidade de Nova
Brasília, onde está instalado, o Coletivo Mídia Verde já está
finalizando um curta-metragem.
A produção conta a história de um rapaz que acorda todos os dias na
expectativa de uma mudança em sua vida, mas que, ao abrir a janela e ver
que está chovendo, acaba retornando ao sono.
Após a conclusão do curta, o pessoal do Coletivo Mídia Verde planeja
comprar os próprios equipamentos e dar sequência a novos trabalhos.
Atualmente, eles têm o apoio da TV Verde, projeto realizado pela
Superintendência de Território e Cidadania (STC), e de seus antigos
professores, que agora atuam como consultores.
Três curtas já estão em planejamento, todos com o humor dando a
tônica no roteiro. “Bala Perdida”, “O Trabalhador” e “O Cara do Tique”
começarão a ser produzidos ainda em 2014.
Segundo Igor Valente, de 18 anos, os projetos mostram a linguagem da
favela, com suas gírias e eventuais erros de português. Para somar
esforços e profissionalismo, o projeto pretende fechar parceria com
companhias de teatro e atores do próprio Complexo do Alemão.
A pacificação da região, aliás, foi determinante para a concretização
do sonho desses jovens, que já se conheciam por viverem em diferentes
comunidades da região, como Fazendinha, Itararé, Alvorada, Palmeiras e
Loteamento.
“Essa turma é diferente porque sempre foi muito interessada”, afirma
Felipe Milhouse, professor e orientador que jamais havia dado aulas em
comunidades. Ele mesmo admite que se surpreendeu ao constatar que os
moradores tinham o hábito de ir ao cinema toda semana.
“Eu vi que a relação do cinema com a comunidade é grande. O Alemão é
muito cultural e o que o Coletivo quer é exteriorizar o que acontece
aqui”, afirma.
Paulo Ballado, da TV Verde, também se diz surpreso com a motivação dos alunos.
“Essa turma superou as expectativas. Vi o potencial deles, mas não
pensei que fossem ter tanto interesse. Conforme as aulas foram
acontecendo, a gente deu uma direção”, explica Paulo, que também já
atuou como coordenador do projeto de web TV do Novo Degase.
“Esse grupo é um retrato do povo que hoje quer mostrar a sua voz”.
Michelle Mascarenhas diz que sempre teve a curiosidade em saber como
os filmes que ela via eram feitos. Hoje, ela é um dos braços da produção
do Coletivo.
“Foi a partir do nosso primeiro filme, no segundo mês de aula, que vi que a coisa era séria”, conta a jovem de 18 anos.
O fruto da oficina foi além do Coletivo. Leonardo França, que hoje é
monitor da segunda turma de audiovisual, viu a oficina se multiplicar
pelo boca a boca. “Assim que começaram a ver que o trabalho era
interessante, veio o reconhecimento”, recorda.
“A ideia do Coletivo foi mostrar o pensamento da comunidade. Os meios
de comunicação jogam e nós assistimos. Nós queremos apenas mostrar o
que a comunidade pensa. Aqui não é só tiro toda hora. E tem gente que
gosta de tudo, e não apenas funk. O pensamento ainda é limitado e nós
queremos mostrar que tem muita cultura no Alemão”, resume Leonardo.
Apesar da paixão pelo cinema, os jovens do Coletivo Mídia Verde ainda
têm dúvidas sobre qual profissão seguir na carreira. Se alguns
demonstram interesse em jornalismo e publicidade, outros não escondem a
preferência pela engenharia ou mesmo a psicologia.
De toda forma, o que vale é que a semente do trabalho em grupo deu
frutos e a voz dessas jovens começa a ser ouvida e reconhecida dentro e
fora do Complexo do Alemão."
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