Correio do Brasil
"O terrível estupro coletivo e assassinato de uma estudante em
Nova Délhi, em dezembro de 2012, gerou grande indignação na Índia.
Dezenas de milhares de pessoas por todo o país expressaram seu choque
com o crime, e o Legislativo, enfim, tornou mais rígidas as leis contra estupro.
O ocorrido também foi a motivação que faltava para a estudante de
engenharia Manisha Mohan, de 22 anos, criar um novo, e incomum, sistema
de defesa para mulheres: um sutiã elétrico. Com a ajuda de mais dois
colegas, ela fez pesquisas e trabalhou em diversos modelos antes de
criar um protótipo de lingerie que reage quando provocado.
- Eu comecei trabalhando com pessoas que tinham relação com o campo
eletrônico, tive discussões e aí (o projeto) começou a evoluir – disse
Manisha à agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW). “(A ideia) foi para um outro nível quando tivemos reconhecimento no mundo todo.”
Poder feminino
Antes de o produto ser disponibilizado no mercado, os engenheiros
estão dando os retoques finais na lingerie, que recebeu o nome de
“Equipamento para Blindar a Sociedade” (SHE, que, na sigla em inglês
brinca com o pronome “ELA”).
Manisha ainda não sabe exatamente quando a peça será comercializada,
mas ela acredita que deve ser em breve. O sutiã tem um sensor de pressão
conectado a um circuito elétrico que pode causar um choque pesado
3.800 kilovolts, capaz de queimar um estuprador. No momento em que os
sensores de pressão são ativados, um GPS inserido no dispositivo alerta a
polícia.
- O sutiã tem um equipamento eletrônico dentro de um bolso forrado
por duas camadas de tecido – explicou a estudante. “O bolso isola a
mulher e é à prova d’água. Então estamos tentando incorporar todas as
peças elétricas ali dentro, junto com os sensores que detectam a
quantidade de pressão sobre os seios de uma mulher.”
A tecnologia parece ser simples. O sensor de pressão foi calibrado
para apertos, beliscões e quando os seios são agarrados – a força
exercida por um abraço não ativa o dispositivo. Também há um botão para
que a mulher possa vestir o sutiã sozinha quando estiver em um lugar
perigoso.
Seguro e confortável
Quem já usou o sutiã diz que a peça é confortável. As experiências realizadas com a peça têm sido, no geral, positivas.
- Acho que o sutiã vai ser extremamente útil porque tanto mulheres
como meninas poderão se movimentar com confiança por grandes cidades em
horas consideradas de risco – disse a estudante Revathi.
Manisha também acha que o sutiã será confortável. “Uma vez que vai
ser semelhante à textura de um papel e já que a maioria das peças usadas
por mulheres têm revestimento, não acho que será tão difícil para uma
mulher usá-lo”, disse.
Manisha foi selecionada para a prestigiosa Residência de
Pesquisadores e Inovadores, um programa de 20 dias oferecido pelo
presidente da Índia, Pranab Mukherjee, no palácio presidencial. O
programa permite que inovadores mostrem seus talentos.
O lançamento comercial do sutiã não poderia ter vindo em um momento
mais apropriado, com um aumento no número de denúncias de crimes contra
as mulheres na Índia.
Dados oficiais apontam que, em 2013, o número de crimes como estupro, assassinato e abuso sexual
aumentou mais de 25% em relação ao ano anterior. Pelo menos 309.546
crimes contra mulheres foram denunciados à polícia no ano passado. Em
2012, o número de denúncias foi de 244.270."
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