Beleza e sofrimento em retrato metafórico da resistência |
Orlando Margarido, CartaCapital
A beleza e a crueza convivem no estrito mundo apresentado por Meteora,
filme grego de Spiros Stathoulopoulos. Para a primeira noção o diretor
vale-se, por exemplo, da tradicional arte dos ícones da religião
ortodoxa e dos cantos bizantinos para representar o universo dos jovens
protagonistas, um monge e uma freira que habitam monastérios vizinhos e
se apaixonam. No entorno ermo e montanhoso, onde são necessários
expedientes como usar cordas e cestos para subir pessoas e comida, sobrevivem rituais que
contrastam na natureza primitiva e selvagem, já que ali se sugere
tratar-se da atualidade. É o caso mais explícito o cabrito morto com o
qual o jovem vai montar um banquete e conquistar a amada.
Esses são os adereços de um filme, assim
como a animação utilizada para representar o imaginário de culpa do
casal de noviços, de refinado e lento contar, pois o tempo ali também é
outro e se mostra como que suspenso. No centro dramático está a questão
de uma paixão proibida e a descoberta da sexualidade transformada em um
sentimento de entrega desesperador. Não deixa de ser sintomático vir de
um país em crise, cujo cinema tem se valido de uma representação direta
das dificuldades, um retrato metafórico da resistência. Nesse sentido
talvez o filme alcance o conflito mais belo e elevado.
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