T. S. Sprivet (Kyle Catlett), solitário e inteligente, carrega o peso de um segredo |
Orlando Margarido, CartaCapital
No mundo de fantasia que o francês Jean-Pierre Jeunet elabora quase solitariamente no cinema sempre houve lugar para dores e aflições. Há mais de uma década a jovem ingênua de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
trazia uma imersão um tanto penosa na realidade. Se os adjetivos dos
títulos dos filmes sugerem algo da ordem do maravilhoso, é para
enfatizar depois que não há apenas gratificações na vida, como se dá com
o garoto T.S. Spivet em Uma Viagem Extraordinária. Para justificar o extravagante e prodigioso contido no original o longa chega aos cinemas no formato 3D.
Não fosse em muito pelo contexto fabular de Jeunet, a
etapa de crescimento pela qual Spivet (Kyle Catlett) passa seria comum a
quem tem 10 anos de idade. Mas o diretor soma atribuições mais
complexas ao filho de um dono de terras no interior americano que toca
tudo com rédeas severas e de uma cientista absorta em insetos. Nesse
cotidiano, o garoto solitário e de intelecto dotado inventa a máquina de
moto-perpétuo, o que o credencia sob falsa identidade a um concurso.
Mas haverá outra razão para que parta escondido numa
aventura de descobertas, relacionada a um trauma com o irmão no passado,
nunca esquecido pelo patriarca. Com referências universais, como a
relação entre pais e filhos, Jeunet assume ainda as de contos de fada, a
exemplo de O Pequeno Polegar, diferença que faz o encantamento de seu cinema."
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