Kill the messenger: o filme que desmente o mito da mídia livre

"O filme "Kill the Messenger" (O mensageiro) é dirigido por Michael Cuesta e estreia no Brasil no próximo dia 11 de dezembro. 

Chris Hedges, Truthdig.com / Carta Maior

Há muito mais verdades sobre o jornalismo norte-americano no filme Kill the Messenger, que descortina o que se passa na grande mídia, a partir da campanha nacional de difamação contra o trabalho do jornalista investigativo Gary Webb do que no filme All the President’s Men, uma celebração ao trabalho dos repórteres que cobriram o escândalo Watergate.
 
Os meios de comunicação apoiam cegamente a ideologia do capitalismo corporativo. Louvam e promovem o mito da democracia estadunidense. Deste modo são suprimidas liberdades civis da maioria e o dinheiro substitui o voto. Os meios de comunicação prestam deferência aos líderes de Wall Street e de Washington não importa o quanto os seus crimes possam ser perversos. De modo servil, os meios de comunicação veneram os militares e a aplicação de leis em nome do patriotismo.

Os meios de comunicação selecionam especialistas e peritos, quase sempre indicados e sugeridos a partir dos centros de poder, para interpretar a realidade e explicar a política. Em geral divulgam press releases oficiais redigidos pelas corporações para preencher o seu noticiário.
 
E para distrair os leitores, recheiam os furos de notícias com fofocas da vida de celebridades, com notícias triviais ou esportivas e com futilidades. O papel da grande mídia é promover o entretenimento ou se fazer de papagaios repetindo a propaganda oficial para as massas. As corporações, que contratam jornalistas dispostos a serem cortesãos e são proprietárias da imprensa, alugam  profissionais para serem benevolentes com as elites e, em contrapartida, os promovem a celebridades. Estes jornalistas cortesãos, que ganham milhares de dólares, são convidados a frequentarem a intimidade dos círculos do poder. Como diz John Ralston Saul, romancista canadense, são hedonistas do poder.

Quando Webb publicou, em 1996, uma série de reportagens no jornal San José Mercury News denunciando a Agência Central de Inteligência (CIA) como cúmplice no contrabando de toneladas de cocaína a ser vendida nos Estados Unidos para financiar a sua operação na luta dos contra da Nicaragua, a mídia se voltou contra ele que passou a ser visto como se fosse um leproso. Ao longo do tempo e das várias gerações de jornalistas, é longa a lista de profissionais leprosos que vai de Ida B. Wells a I.F. Stone e a Julian Assange.
 
Os ataques contra Webb foram renovados agora, em jornais como o The Washington Post, assim que o filme estreiou, há uma semana, em Nova Iorque. Estes ataques são como uma autojustificativa. Uma tentativa da grande mídia de mascarar a sua colaboração com as elites do poder. A grande mídia, assim como todo o establishment liberal, pretende apresentar o verniz de quem, destemidamente, busca a verdade e a justiça. Mas para sustentar este mito precisa destruir a credibilidade de jornalistas como Webb e Assange que procuram jogar uma luz no trabalho sinistro e criminoso do império que é mais preocupado com (esconder) a verdade do que com a notícia.
 

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