'O que é uma "it girl"? Segundo o Dicionário Oxford, é "uma jovem que se torna famosa por causa de seu estilo de vida".
Hoje em dia, muitas jovens são chamadas de "it girls" simplesmente porque têm uma montanha de dinheiro e frequentam inúmeras festas.
Mas a primeira "it girl" que corresponde à descrição do dicionário foi uma das mais bem-sucedidas e revolucionárias estrelas do cinema mudo: Clara Bow. Quando ganhou o título, ele tinha um significado completamente diferente.
Bow nasceu em 1905 no distrito do Brooklyn, em Nova York, no que seu biógrafo, David Stenn, define como "a mais brutal pobreza que se conhecia na época".
Confinada em um cortiço com um pai abusivo e uma mãe violenta e mentalmente instável, Bow mandou uma foto sua para um concurso de beleza de uma revista quando tinha 16 anos. E merecidamente ganhou o prêmio máximo.
Reinventando a vida
Para Judith Mackrell, autora do livro Flappers: Six Women of a Dangerous Generation ("Melindrosas: Seis mulheres de uma geração perigosa", em tradução livre), o caminho de Bow para a fama foi um dos elementos que a tornou tão emblemática dos anos 20. "Em outra época, ela teria acabado nas ruas ou em uma fábrica, mas a existência do cinema como uma indústria de massas deu a ela a chance de reinventar sua vida".
Bow não era especialmente sedutora ou elegante, mas atraía por estar sempre de bem consigo mesma. Era o arquétipo da mulher moderna.
"Detesto a palavra 'ícone', mas Bow foi fundamental para exemplificar a imagem da mulher dos anos 20. Ela era a personificação da melindrosa. Para as centenas de milhares de mulheres que iam ao cinema toda semana, ela era um modelo a seguir", afirma Mackrell.
Garota de hoje
Enquanto outras estrelas dos anos 20 podem parecer caricaturais e melodramáticas aos nossos olhos de século 21, Bow sempre aparece como uma pessoa cheia de vida e sem afetações: a garota que mora ao lado, mas que também podia muito bem fazer parte da turma dos meninos.
"Ela tem algo muito contemporâneo", diz Elaine Shepherd, que produziu um documentário sobre a atriz para a BBC em 2012.
"Convidamos um grupo de estudantes para assistir a um dos filmes de Bow e todos eles realmente gostaram dela. Não sentiram que ela era estranha ou antiquada. Sua maneira de se mover e suas expressões faciais, e até suas roupas e seu cabelo... ela poderia muito bem andar por aí hoje em dia."
O sucesso de 'It'
Quando o filme se tornou um sucesso, milhares de fãs passaram a mandar cartas para Bow endereçadas a "Miss It" ou "A Garota It".
Ela ainda fez muitas outras produções, incluindo Asas, um drama sobre a Primeira Guerra Mundial que ganhou o primeiro Oscar de melhor filme da história. Mas seu tempo em Hollywood estava se esgotando.
Essa simplicidade de quem vivia o momento, que a ajudou a se tornar um ídolo nos anos 20, foi esnobada durante os anos 30, atingidos pela Grande Depressão. Bow foi atacada pelos tabloides como um símbolo da decadente indústria do entretenimento.
Além disso, quando surgiram os primeiros filmes falados, ela não se adaptou e abandonou Hollywood.
Aposentadoria precoce
Em vez disso, Bow foi morar em uma fazenda no Estado de Nevada com o marido ator, Rex Bell, e lutou contra uma doença psiquiátrica até morrer, aos 60 anos.
Fez seu último filme, Hoop-La, em 1933, quando tinha apenas 28 anos. Em uma entrevista da época, ela disse: "Quero ser conhecida como uma atriz séria, não como uma 'it girl'".
Mas não foi isso o que aconteceu. Bow hoje é realmente lembrada por ter sido a primeira "it girl", o que nem sempre é justo quando se considera que o termo hoje tem sido aplicado para qualquer socialite que consegue emplacar uma capa de revista.
Isso não tem nada a ver com a "it girl" dos anos 20, descrita como alguém com "carisma, vivacidade e um charme espontâneo". Algo que Bow realmente tinha."
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