Concorrência, seja qual for e em que setor for, é sempre estimulante |
Marcio Alemão, CartaCapital
Em quantos restaurantes já lhe ofereceram um
bom prato de formiga e quantas vezes você, depois de provar, concluiu:
“Não tem jeito, a do fulano é a melhor”?
Você já elegeu o melhor jeito de comer formiga, a preparação que mais lhe apraz?
A concha de caramujo do The Fat Duck é a
melhor para se ouvir o ruído do mar, enquanto se aprecia uma variedade
de sushis. Essa é uma afirmação complicada de fazer, certo? Eu não faria
sem antes percorrer a orla de Santos, Praia Grande, Mongaguá e demais
recantos praianos de São Paulo. Jogo isso para nossa costa, que a brisa
do Atlântico beija e repito a pergunta: a do The Fat Duck é a melhor?
Sem querer jogar gasolina na fogueira, ouvi dizer que em Perequê, no
Guarujá, criaram um fone de ouvido com conchas. Você ouve o mar em
estéreo, enquanto come camarãozinho sete-barbas frito, que na minha
vira-lata e honesta opinião, dá de 100 no melhor sushi do mundo.
Espumas, geleias e gelatinas de coisas sólidas que andaram
fazendo aos montes por aí. Em tempo, tá na hora de alguém falar sobre o
ocaso da cozinha molecular ou vamos deixar o assunto em banho-maria (ou
em baixa temperatura)?
Geleias, espumas e gelatinas. Você chegou a eleger suas prediletas?
Nesse quesito até foi possível fazer comparações, posto ter virado
febre. E febre ruim, tipo peste. Muita gente perdeu tempo e dinheiro
tentando ser Ferran Adrià.
Mas agora vamos para o outro lado: um camarada decide abrir uma trattoria,
uma cantina e servir macarrão com molho à carbonara, alho e óleo, cacio
e pepe. Decide assar cabrito, frango. Teima em fazer uma pizza
espetacular. Vai atrás da melhor carne de boi para fazer o melhor
churrasco.
Lembro da conversa do poeta russo Maiakovski com seu
amigo. E lhe disse o amigo: “Seu trabalho é fácil. Enquanto você vai ter
de responder para a posteridade, eu tenho de responder para o comitê do
bairro toda semana”.
Não tiro o valor de ninguém nem seria trouxa de afirmar
que não precisamos de poetas criando novas estrofes gastronômicas, mas
tão somente de bons intérpretes para velhas e consagradas partituras.
Minha intenção é dividir um pouco essas medalhas.
Querer ser o melhor onde muitos são excelentes é tão desafiador quanto transformar um boi em bola de gude comestível.
Por isso é comum dizer que a concorrência, seja qual for e em que setor for, é sempre estimulante."
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