Mas o "tempo de tela" do único representante brasileiro no Universo Marvel não chegou a dois minutos: Mancha Solar morre logo no início de X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (2014). E o personagem ainda foi interpretado por um ator mexicano, Adan Canto.
Por mais que adote um tom diplomático, até porque trabalha para a Marvel, Chris Claremont não parece ter digerido o uso cinematográfico de um de seus "bebês".
O roteirista americano, de 64 anos, é o criador do Mancha Solar, um personagem que ocupa um espaço surpreendentemente especial na memória de Claremont, apesar da gama de personagens em seu currículo. Claremont é um dos mais cultuados escritores do meio, especialmente pelas quase duas décadas que passou cuidando das histórias dos X-Men.
E embora seja conhecido por seu trabalho com a Marvel, o americano também trabalhou com dois "mitos" da editora rival, a DC Comics: Batman e Super-Homem. Estima-se que Claremont tenha vendido meio bilhão de revistas em todo o mundo.
Redenção
"Bobby" - ou "Beto" - é Roberto da Costa, a identidade secreta do Mancha Solar. O personagem foi criado por Claremont no início dos anos 80, como parte de um pacote de personagens para renovar o chamado "universo mutante" da Marvel. Um grupo de jovens heróis que ficaria conhecido como os Novos Mutantes. E que incluía, por exemplo, uma refugiada vietnamita ao lado do brasileiro.
"A premissa dos X-Men era ser uma escola para jovens mutantes e o público de então tinha visto os mesmos personagens por quase 20 anos. Eu também quis sacudir as coisas um pouco, estava cansado de heróis brancos e americanos".
Mancha Solar fugiu do molde: filho de um empresário negro brasileiro e de mãe branca americana, o personagem foi construído após uma pesquisa de Claremont sobre o Brasil. Nada extremamente vanguardista - Roberto, afinal, descobre seu poder, de absorver energia solar e basicamente funcionar como um pequeno sol, durante uma partida de futebol escolar no Rio, quando sofre bullying. Mas Claremont olhou para o Brasil numa época em que o país estava longe da visibilidade internacional dos tempos de hoje.
"Para mim, era uma escolha natural. Queria dar um ar mais global para os Novos Mutantes, afinal. Sabia que o Brasil era um país com uma tremenda variedade de tipos físicos, queria construir Beto como algo o mais realista possível", completa Claremont.
Ao contrário do Brasil, onde apareciam como pano de fundo em histórias dos X-Men, os Novos Mutantes tiveram nos EUA sua própria revista até 1991, mesmo ano em que um casamento de 17 temporadas de Claremont com o "universo mutante" teve uma interrupção.
Ele não voltou a trabalhar regularmente com seu herói brasileiro. Tentou não prestar muita atenção no que outros roteiristas fizeram com o personagem. Mas não aprovou reviravoltas na "vida" do Mancha Solar. Em especial sua integração aos Vingadores, o mesmo grupo de heróis da mais recente milionária franquia no cinema.
E o desejo passa por uma redenção cinematográfica do super-herói brasileiro.
"Adoraria ter a chance de voltar a trabalhar com Bobby. Inclusive no cinema. Seria uma chance de explorar mais um personagem interessantíssimo por causa de todos os conflitos internos e externos na sua vida. Quem sabe essa chance não aparece num filme sobre os Novos Mutantes. E em breve?", brinca o roteirista, deixando um certo mistério no ar."
Nenhum comentário:
Postar um comentário