Da BBC
Mas uma pequena revolução liderada pelas mulheres está acontecendo na demografia das bilheterias das produções de Hollywood.
O fenômeno foi particularmente notável no primeiro trimestre do ano, quando as mulheres formaram pelo menos 60% da audiência de três filmes nos Estados Unidos: Cinquenta Tons de Cinza, Cinderela e A Série Divergente: Insurgente.
Juntas, essas produções geraram mais de US$ 480 milhões até agora, apenas na América do Norte, enviando um sinal claro aos altos executivos do setor.
"Esses filmes mostraram que as mulheres são muito importantes para o faturamento dos estúdios", afirma Paul Dergarabedian, analista de mídia da consultoria Rentrak, especializada em medir audiências no mercado de entretenimento.
Filmes femininos para todos
"(A atriz) Reese Witherspoon é um exemplo de alguém que está realmente se dedicando a criar mais e mais papéis para ela e para outras mulheres", afirma o ator britânico Michael Sheen, que acredita que as mulheres estão avançando no setor.
Essa capacidade não é uma surpresa para a atriz britânica Carey Mulligan, que acredita que os estúdios demoraram para capitalizar o potencial feminino.
"Acho que Hollywood só está percebendo isso agora", afirma. "Cada vez mais nos últimos anos, ficou provado que filmes protagonizados por mulheres também podem ser um sucesso. Vejam o caso de Jennifer Lawrence e Jogos Vorazes. Ela é uma estrela e é quem está atraindo as multidões."
Já estão previstas para este verão do hemisfério Norte as estreias de mais filmes com apelo feminino, como as comédias Belas e Perseguidas, A Escolha Perfeita 2 e A Espiã que Sabia de Menos, além do thriller romântico Cidades de Papel.
Disputando os homens
"Acho que parte disso se deve à ideia de que a audiência formada por rapazes entre 18 e 24 anos domina as bilheterias, principalmente no verão", diz Dergarabedian.
O conceito, no entanto, está sendo aos poucos descartado. "Os números não mentem", afirma o analista. "Afinal, os estúdios são pragmáticos e realistas – e eles entenderam que, se quiserem atrair mais gente aos cinemas, terão que criar conteúdo que seduza um segmento muito poderoso da população, as mulheres."
No início deste ano, houve muita tensão nos bastidores de Hollywood quando se percebeu o fracasso de filmes direcionados a jovens do sexo mascullino, entre eles Chappie, O Destino de Júpiter e O Franco-Atirador.
A audiência adolescente masculina ainda vai aos cinemas assistir a franquias de sucesso, como Guerra nas Estrelas e Vingadores, mas é um grupo difícil de atingir com outro tipo de filme.
Carrey Mulligan acredita que esses jovens podem ter um gosto cinematográfico mais amplo do que os produtores imaginam – pelo menos pela experiência que teve com seu mais recente filme, Far From the Madding Crowd (ainda sem título em português). "Acho que você não precisa ser mulher para curtir um clássico da literatura. Muitos espectadores estão sendo subestimados", afirma.
A maior prova de que uma audiência mais diversificada pode ser atraída por um filme que seria considerado como entretenimento para mulheres é a animação Frozen – Uma Aventura Congelante, de 2013.
Ao estrear, o desenho fez sucesso apenas entre meninas e suas mães, mas no fim acabou atraindo uma plateia muito maior, arrecadando US$ 1,27 bilhão em todo o mundo e se tornando o quinto maior faturamento da história do cinema.
Girl power
Com isso, franquias bem-sucedidas estão se adaptando para introduzir personagens femininas, como uma estratégia para atrair todos os espectadores, e não só os homens.
Vingadores: Era de Ultron trouxe uma nova protagonista, com Elizabeth Olsen no papel da Feiticeira Escarlate. A DC Comics planeja lançar um filme da Mulher Maravilha até 2017 e a Marvel Comics já está tirando da gaveta uma Captain Marvel feminina para 2018.
Mas, ainda que as perspectivas pareçam promissoras, muitos acreditam que as mudanças só acontecerão de fato quando os executivos de Hollywood derem o sinal verde para mais produções femininas.
Um nome que é praticamente uma exceção no setor é Kathleen Kenney, presidente da Lucasfilm, que supervisiona a franquia Guerra nas Estrelas. Em um recente encontro de fãs do filme, ela declarou que as próximas sequências vão ter "um monte de personagens femininas novas e maravilhosas".
Os primeiros sinais de mudança: Guerra nas Estrelas – O Despertar da Força está carregado de mulheres poderosas, encarnadas pelas atrizes Daisy Ridley, Gwendoline Christie e Lupita Nyong’o. E a britânica Felicity Jones foi contratada para ser a principal protagonista do primeiro spin-off da franquia, Rogue One.
Por tudo isso e pelo fato de grandes sucessos de bilheteria recentes terem sido protagonizados por mulheres, as expectativas são grandes.
Hoje, qualquer executivo de um estúdio que ignore a oportunidade comercial representada pelas mulheres no cinema estará agindo fora da normalidade.
O que está conduzindo esse avanço é o mundo dos negócios, mais do que qualquer caminhada no sentido de criar mais igualdade entre os gêneros.
No entanto, é um avanço e uma mudança enorme de paradigma em relação a alguns anos atrás, quando as mulheres não apareciam nos grandes cálculos de Hollywood."
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