As Aventuras de Pi



Duanne Ribeiro, Digestivo Cultural

“A vida é imensa, deslumbrante e indiferente - e o homem é pequeno; eis o núcleo do filme de Ang Lee As Aventuras de Pi, adaptação do livro homônimo do escritor canadense Yann Martel, ganhador do Booker Prize de 2002. Essa ideia essencial transparece tanto no visual exuberante com que é retratada a natureza - em sua violência e sutileza - quanto no enredo, que conta a odisseia do rapaz indiano Pi, à deriva no meio do Pacífico, tendo como único companheiro um tigre branco. A história é narrada por Pi a Yann, com um adicional que estipula uma moldura religiosa a toda a narrativa: a sobrevivência ao longo de 227 dias, sob sol e solidão, contra a ameaça constante da fera, com um quase nada de recursos, é uma história que deve fazer com que Yann (e, por analogia, nós) acreditemos em deus.

Pi é jogado no oceano em um naufrágio do qual só ele sobrevive. Sua família viajava de sua terra natal ao Canadá, onde buscariam vida nova. Por problemas financeiros, abandonavam a Índia e levavam consigo, para vender, os animais do zoológico que mantinham. As ondas furiosas e a tempestade põem o navio abaixo, e, entre os humanos, apenas Pi, por acidente, consegue entrar em um bote de emergência. Uma zebra, uma hiena, um macaco conseguem também, assim como (saberemos logo) o tigre. A hiena mata os outros mamíferos e depois é ela própria morta. Restam Pi e Richard Parker - o felino. No bote, o indiano acha água e comida, um caderno, um lápis, um manual de sobrevivência no mar.

O filme torna a convivência com o tigre convincente. Naturalmente, para Richard Parker, Pi é alimento; para o rapaz, portanto, a base desse convívio é evitar ser devorado. No primeiro momento, ele se mantém na extremidade da embarcação, fora do alcance das patadas. Após algum tempo, monta um bloco flutuante com boias e outros materiais, o qual atraca ao bote, assim se mantendo razoavelmente seguro, a metros de distância. Nos dias seguintes, saciar a fome (e a sede) do animal é uma necessidade, já que um estômago satisfeito diminuiria as chances de ele sentir a urgência de atravessar nadando o espaço que os separa. Pi pesca por si e pelo tigre. Com o tempo, ele procura outras formas de se comunicar, de estabelecer um relacionamento de limites mais delineados e menos perigosos. Richard Parker, no processo, se torna mesmo um motor fundamental da resistência de Pi: é ele quem lhe deixa alerta por todo momento, é ele quem preenche as horas de trabalho e de algum sentido.”
Foto: Reprodução
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