Sala deve ser reaberta no meio do ano |
Diego Sartorato, RBA
Após dez meses de negociação intermediada pela prefeitura de São Paulo, o Cine Belas Artes formaliza amanhã (28) o recebimento de patrocínio da Caixa Econômica Federal para retomar as atividades a partir do meio do ano. Estão previstas obras de recuperação do prédio, que está fechado há três anos.
André Sturm, diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS) e gestor do cinema desde 2004, volta à atividade com a proposta de retomar "marcas registradas" do Belas Artes, como as exibições de filmes de madrugada, e incorporar mecanismos de democratização do acesso ao cinema acordados com a Caixa.
O desempenho da nova parceria será acompanhado de perto pela prefeitura. Segundo o secretário-adjunto de Cultura, Alfredo Manevy, esse será o teste para que o poder público passe a intermediar e incentivar a recuperação de diversos cinemas de rua em São Paulo por meio da agência de fomento SPCine, que deve começar a funcionar entre março e abril.
"Estamos analisando salas na Cinelândia [região entre as avenidas Ipiranga e São João que concentra 30 salas de cinema dos anos 1950] para intermediar uma revitalização nos mesmos moldes do Belas Artes. O Art-Palácio é um deles, já foi até desapropriado", afirma Manevy.
A ideia do governo municipal é que a SPCine seja a intermediadora das negociações entre salas de cinema e patrocinadores, sem necessariamente usar recursos do orçamento municipal. O amparo do poder público com uma lei que impeça a especulação imobiliária de inviabilizar economicamente os espaços de cultura.
"O que vemos, não apenas com cinemas, é que o equipamento cultural atrai um público especializado e valoriza o bairro, o que leva a investimentos pesados do setor imobiliário em empreendimentos de alto padrão. Esse processo, no entanto, é o que acaba inviabilizando esses equipamentos nesses locais. É o caso da rua Augusta, por exemplo, ou da praça Roosevelt", lamenta Manevy.
Atualmente, Câmara Municipal e prefeitura finalizam o texto final da revisão do Plano Diretor Estratégico, que dita o uso do espaço na cidade e deve passar pela primeira votação em fevereiro.
Um dos mecanismos que o relator do projeto, vereador Nabil Bonduki (PT), defende para os cinemas é a delimitação de um "corredor" ligando a região da avenida Paulista ao Centro da cidade em que esses equipamentos teriam condições regulatórias e tributárias especiais para se manter.
SPCine
A SPCine, sancionada pelo prefeito Fernando Haddad (PT) em dezembro de 2013, terá orçamento inicial de pelo menos R$ 50 milhões anuais, dos quais R$ 25 milhões serão da prefeitura e R$ 25 milhões do governo estadual. O governo federal também deverá contribuir, mas ainda não divulgou o valor.
"Será uma agência enxuta, com pouco custeio, para que o dinheiro possa ser voltado a investimentos. Agora, também não será uma agência de repasses, queremos que seja uma indutora do desenvolvimento cultural e econômico", aponta Manevy. A coordenação da SPCine será compartilhada com o governo estadual, e deve ser anunciada em meados de fevereiro.
Entre as atribuições da agência, a prefeitura prevê medidas de desburocratização e barateamento das operações para filmar em São Paulo; viabilizar a distribuição de filmes que não conseguem entrar no circuito (a secretaria contabiliza 25 filmes sem tela na cidade, alguns em espera há quase um ano); e a viabilização de roteiros e projetos de cineastas.
"Esse amparo do poder público é essencial para o cinema nacional. Se levarmos em conta que as produções brasileiras atingem 20% do público de cinema hoje, podemos dizer que estamos disputando os outros 80%", pondera o secretário-adjunto, que prevê ainda ações internacionais para reafirmar o cinema brasileiro.
"Quando falamos em fortalecer a distribuição de filmes nas salas do país, estamos dando início ao que pode ser um circuito latino-americano de escoamento da produção audiovisual", completa.'
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