Rui Martins, Direto da Redação
'Mãe solteira muito jovem, amorosa, carinhosa, mas ausente,
precisando tanto de atenção quanto seus dois filhos, sem pai conhecido.
Assim começa o filme Jack, do alemão Edward Berger, no
qual se conta a história do menino de dez anos, que assume toda a
responsabilidade sobre o irmão menor, enquanto a mãe trabalha ou sai ou
se diverte no quarto de porta fechada com algum namorado.
Oportunidade para a descoberta de um excelente ator infantil, Ivo
Pietzcker, dono de uma segurança e uma naturalidade que supreendeu e
impressionou a centena de jornalistas presentes na entrevista coletiva
com o diretor e atores do filme.
Filme praticamente impossível de entender para os brasileiros, para
quem crianças sem boa tutela vão parar no Febem para se tornar bandidos.
Na Alemanha, ao que conta o filme, o serviço social rapidamente se
encarrega da educação das crianças deixadas ao abandono, em lares
dotados de todo conforto e com assistentes sociais.
Será que o comportamento de mães de classe média, ausentes, sem serem
drogadas e nem viciadas, é provocado pela vida moderna ? Talvez não, a
socióloga francesa Elizabeth Badinter (esposa do antigo ministro francês
Robert Badinter responsável pelo fim da pena de morte na França)
escreveu um livro controvertido, mo qual afirma ser um fator cultural o
amor maternal e as responsabilidades decorrentes. Algo que se aprende e
se desenvolve e não natural e instintivo.
Assim, o filme Jack vai na contracorrente dos lugares comuns de que
toda mãe é dedicada, mostrando a maturidade precoce de uma criança
extremamente responsável embora carente de amor. E pega em flagrante
delito de omissão os adultos ligados à genitora, que pouco se importavam
com os dois irmãos perdidos de noite, dormindo ao relento e passando
mesmo fome.
Edward Berger, o realizador, conta ter se inspirado por esse tema
quando seu filho, depois de uma partida de futebol de fim-de-semana, lhe
apresentou um colega de jogo, com sua mochila, de volta ao seu lar de
crianças, diferente daquela imagem de um lugar de crianças tristes e
revoltadas.
« No meu filme, mostro uma mãe muito jovem igualmente procurando
alguém para lhe dar carinho e afeto e quando encontra esquece dos
filhos ».
Ivo, o estreante revelação, contou ter participado do casting, graças
à informação de uma amiga de sua mãe na escola, sobre a procura de um
menino para o filme. Não parecia estar muito interessado, pois primeiro
foi jogar futebol com os amigos e só depois seu pai levou-o ao estúdio,
onde Edward Berger não estava muito entusiasmado em fazer o teste, pois
Ivo tinha chegado atrasado e haveria logo depois uma final do campeonato
alemão de futebol.
Mostrando uma incrível maturidade e praticamente monopolizando a
entrevista coletiva, Ivo disse ser normal que faça novos filmes para
atores de sua idade, mas não considera o seu futuro como ator."
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