Eberth Vêncio, Revista Bula
"Durante a infância e adolescência,
fui tomando gosto pela leitura por conta da austeridade dos meus
professores-mestres (se existe mesmo um Céu, esses sofredores de
carteirinha nele adentrarão beneficiando-se de portõezinhos laterais
exclusivos para Homens de bem e serão recebidos por uma banda de
querubins plenamente alfabetizados); pela dedicação da minha mãe
(professora de escola pública com aposentadoria miserável); pela
insistência e tenência de uma tia avó que vivia a me orientar leituras,
coleções literárias profundamente palatáveis como “Para gostar de ler”,
da Editora Ática, que eu nem sei se existe mais.
O zelo literário com os aprendizes vale da mesma forma para a
educação musical. “Imagine só o impacto no psiquismo de um indivíduo, o
estrago na personalidade em formação de uma criança que, nem bem saiu
das fraldas, já se vê obrigada a suportar, por sua conta e risco, certas
titicas musicais, a rebolar para o divertimento de parentes
embriagados, a dançar na boquinha da garrafa, a segurar o tchan (seja lá
o que isso signifique), a simular o quadradinho de oito sem nem ao
menos saber contar de zero a dez”.
Quem me disse tudo isso foi o Sky, enquanto matávamos, sem culpa,
esfirras de carne numa lanchonete abaixo de toda e qualquer suspeita no
centro da cidade. “O mundo seria menos bélico se, ao invés do hino
nacional, obrigassem a meninada a cantar Imagine, do John Lennon, todos
os dias pela manhã”, ele comentou, enquanto gesticulava irritado por ter
lambuzado o cotovelo numa poça de Sangue de Boi que algum alcoólatra
matutino derramara sobre o balcão."
Lista Completa, ::AQUI::
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