Série "Sense8" renova o Gnosticismo Pop de "Matrix"

Wilson Roberto Vieira Ferreira, Cinegmose

"Diante da série "Sense8" os críticos parecem estar incertos: ou a produção dos irmãos Wachowski é uma obra-prima ou um completo desastre. Para aqueles que já assistiram aos filmes “Matrix”, “Cloud Atlas” ou mesmo “O Destino de Júpiter”, perceberão que os Wachowski ingressam em um território familiar – protagonistas que levam uma vida banal e que de repente descobrem um propósito maior que os levará a enfrentarem um cruel sistema de dominação. Como em “Matrix”, “Sense8” revisita a mitologia gnóstica, porém com uma novidade que faz a série entrar em sintonia com o seu tempo: enquanto em Matrix a ilusão que aprisionava o protagonista era uma sinistra simulação tecnológica, em “Sense8” culturas regionais e nacionais criam rígidos modelos de gênero e identidade que mantém os protagonistas presos a uma conspiração. E a iluminação espiritual não é mais um processo ascético individual, mas agora uma rede mental coletiva e global.  

Os irmãos Wachowski serão de agora em diante chamados de “The Wachowskis” nos créditos das suas produções. Essa não é a única novidade na série do Netflix Sense8. Para aqueles que se dedicam ao estudo das recorrências do Gnosticismo na indústria do entretenimento, como faz esse blog Cinegnose, a série apresenta a principal novidade: uma nova interpretação da mitologia gnóstica dentro daquilo que definimos como “Gnosticismo Pop” – o súbito interesse de diretores, roteiristas e produtores de Hollywood pelos simbolismos e narrativas míticas do Gnosticismo.

Uma tendência que se iniciou no final do século passado, cujo ápice desse revival pop gnóstico foi certamente o filme Matrix dos Wachowskis que sintetizou o que muitos filmes anteriores já exploravam – Dark City (1998), A Vida em Preto e Branco (1998), Show de Truman (1998), O Décimo Terceiro Andar (1999), Clube da Luta (1999) entre outros.

            Apesar do Gnosticismo clássico (séculos III e IV DC) ter sido composto por diversas seitas, religiões iniciatórias e escolas de conhecimento, todas elas parecem partilhar de uma narrativa comum: o universo como nós conhecemos foi produto de uma catástrofe de dimensões cósmicas – a Criação, produto de um Demiurgo que, enlouquecido de poder, acredita ser o único Deus e mantém o homem aprisionado na sua criação aberrante. Do homem o Demiurgo extrai fagulhas de Luz que mantém tudo em funcionamento e produz a ilusão conhecida como “realidade” que mantém a humanidade aprisionada.

Mas essa fagulha é, ao mesmo tempo, a nossa secreta conexão com o Pleroma – a Luz que existe acima do nosso mundo ocupado pela Plenitude. A Gnose seria a rememoração dessa conexão perdida, a única maneira de nos libertarmos da Queda que as religiões chamam pomposamente de “Gênesis”.
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