Berlim – O obscurantismo das religiões


Filme francês, baseado numa novela de Diderot, mostra o obscurantismo das religiões

Rui Martins, de Berlim / Correio do Brasil

“O cineasta francês Guillaume Nicloux é objetivo – com seu filme A Religiosa seu objetivo, ao adaptar a novela de Diderot, foi o de fazer uma obra lírica em louvor da liberdade, dando-lhe uma visão atemporal e universal e não apenas celebrando a resistência da noviça Suzanne Simonin.

Isso porque, embora o catolicismo continue demonstrando sua intolerância e obscurantismo, ele não está só nos dias de hoje, e deve-se falar, por isso, em religiões intolerantes. Seu filme, embora o cineasta não mencione explicitamente, é também um sinal de apoio a todas as mulheres vítimas das religiões.

Desde a adolescência, contou o realizador aos jornalistas, teve vontade de fazer um filme sobre esse romance de Diderot, pela força anticlerical transmitida por esse livro. Respondendo a uma pergunta sobre se haveria atualidade em se mostrar num filme a vida nos conventos no fim do século XVIII, Guillaume Nicloux, recorreu à resposta de sua filha de 15 anos, à qual submeteu o livro de Diderot e perguntou se seria válido nos dias de hoje.

« Eu acho que as coisas não evoluiram, disse ela, As mulheres ainda não gozam de liberdade numa grande parte do mundo. Diderot. » Nicloux citou também o caso noticiado pela imprensa de uma mulher ter sido amputada das orelhas e do nariz, por não querer dormir com o marido.

Diderot, disse o cineasta, se opunha ao fanatismo religioso. E Nicloux aproveitou para fazer publicamente sua profisão de não ter fé. « Sou ateu, não acredito na existência de um Deus. No máximo, eu poderia aceitar uma visão panteista pela qual Deus seria a própria natureza, mas me revolto quando vejo as pessoas crendo em coisas que não se vêem e querendo forçar os outros a lhes seguirem .»

Depois de uma jornalista iraniana exilada na Europa ter falado das exigências e intolerâncias dos muçulmanos xiitas com relação às mulheres no Irã, Guillaume Nicloux citou que no seu próprio país, a França, existem os que condenam o preservativo, a pílula anticoncepcional, com os homens fazendo a lei religiosa, ao mesmo tempo que, hipocritamente, falam em paridade entre homem e mulher. « Basta se ouvir os líderes religiosos franceses para saber que mantêm visões retrógradas e reacionárias como em outros países com outras religiões ».

O filme A Religiosa conta as torturas e sofrimentos infringidos no convento à noviça e depois irmã de voto confirmado, Suzanne Simonin, obrigada a seguir a vida religiosa pela família. A novela de Diderot inspirou diversos filmes, entre eles o de Jacques Rivette, em 1966, que acabou tendo proibida a exibição nos cinemas por intervenção da Igreja católica. O filme de Guillaume Nicloux tem proibição certa nos países muçulmanos. Dele também participa a atriz Isabelle Huppert

Rui Martins, de Berlim, convidado pelo Festival.”

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