Classe média é o foco do filme “Vendo ou Alugo”


A comédia Vendo ou Alugo, de Betse de Paula, procura fazer rir

Correio do Brasil / Reuters

“A comédia Vendo ou Alugo, de Betse de Paula, procura fazer rir de uma história com os pés fincados no imbróglio contemporâneo de um Rio de Janeiro pós-UPPs.

Marieta Severo, assim como Nathália Thimberg veterana de alto quilate que, na tela interpreta sua mãe- são dois grandes trunfos de um filme que tem como ponto forte um ótimo elenco, do qual participam Sílvia Buarque, André Mattos, Marcos Palmeira e o excepcional trio de veteranas Ilka Soares, Carmem Verônica e Daisy Lúcidi, todas dando um show de timing cômico.


Fazer comédia é a coisa mais difícil do mundo, ainda mais tentando dar conta de tantas nuances do cotidiano de uma família de classe média arruinada, um clã constituído por quatro gerações de mulheres (Nathália, Marieta, Sílvia e Bia Morgana). Elas vivem num casarão arruinado, herança da bisavó, localizado na beira de um morro, de frente para uma favela tumultuada por tiroteios, apesar das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) já terem desembarcado por ali.

Atormentada por dívidas acumuladas, a líder do clã, Maria Alice (Marieta), esforça-se para vender a casa, a única solução cabível. O enredo estrutura-se em torno dessa tentativa, da qual vão participar um pastor evangélico corrupto (André Mattos) – trazido pela empregada-, um investidor europeu interessado em explorar o inacreditável interesse de alguns turistas estrangeiros por aventuras perigosas nas favelas cariocas e malandros locais, como Jorge (Marcos Palmeira) -que troca favores com a dona da casa, tradutora, por exemplo, de um manual de armas compradas pelos traficantes.
Em comédia, por princípio, se pode tudo. Não se é obrigado a respeitar moral, nem bons costumes, nem politicamente correto, tudo em nome de fazer rir, especialmente das contradições de todas as camadas da sociedade.

Não raro, o filme de Betse de Paula (de O Casamento de Louise) acerta, apostando especialmente em deixar fluir a naturalidade de seus atores, que se entregam aos personagens, dando-lhes autenticidade e segurando bem o ritmo das situações, cada vez mais caóticas.

Nem todos os caminhos do roteiro levaram a bom termo, ou seja, nem todas as piadas dão certo -o que é até natural esperar, numa história assinada por quatro roteiristas, incluindo a diretora, Maria Lúcia Dahl, Julia Abreu e a também produtora Mariza Leão. Ainda assim, é saudável, especialmente num filme dirigido por uma mulher, que as insinuações sexuais sejam maliciosas, irônicas, nunca escatológicas -como em boa parte das comédias de maior sucesso de bilheteria hoje-, o que não alivia nem um pouco sua munição.

A boa notícia é que Vendo ou Alugo se arrisca num outro caminho, se esforça para ser um outro tipo de comédia, que flerta com as antigas chanchadas e as atualiza.

No Cine PE, em abril, Vendo ou Alugo foi o grande vencedor, faturando 12 troféus, incluindo melhor filme para o júri e a crítica.”

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