“Jason Newsted
teve a difícil missão de preencher a vaga de Cliff Burton,
quando este faleceu tragicamente, depois de cair pela janela do ônibus da
banda, durante uma turnê. O último álbum de estúdio do Metallica havia sido o
clássico Master of Puppets (1986). Talvez para evitar uma comparação
entre os baixistas logo de cara, o grupo preferiu um EP de covers, o Garage
Days (1987), que inesperadamente se converteu em outro clássico da banda.
Jason, originalmente do Flotsam and Jetsam, havia passado no teste.
Considerando
que o próximo álbum de estúdio, ...And Justice for All (1988), também se
converteria num clássico, o futuro parecia sorrir para Jason Newsted. Mas os
anos 90, segundo a profecia de Joey Ramone, seriam "o começo de fim do
Metallica". O lendário vocalista dos Ramones afirmaria isso ao brasileiro André Barcinski, no livro Barulho (1992), enquanto James, Lars, Kirk e Jason
viviam o auge da consagração do Black Album. Dito e feito: o conjunto
nunca mais gravaria nada próximo de Metallica (1991). E em algum momento
entre o auge e a queda ― incluindo a polêmica
contra o Napster, na virada do milênio ―, Jason Newsted teve o bom senso de
abandonar o navio, terminando substituido por Robert
Trujillo, do Suicidal Tendencies. (Que, por sua vez, nunca se integrou
totalmente ao Metallica ― parecendo sempre um baixista emprestado... do
Suicidal Tendencies. Mas essa é outra história.) Jason ainda se aproximaria do
Sepultura no seu auge, também na década de 90, comparecendo ao casamento de
Ig(g)or Cavalera, em São
Paulo, e provavelmente fazendo a "ponte" entre Andreas Kisser e o resto do Metallica, quando James
Hetfield se acidentou e precisaram de um guitarrista urgente.
O fato é
que ninguém mais tinha ouvido falar de Jason Newsted ― fora uma participação ou
outra na comemoração de 30 anos do Metallica ― até Heavy Metal Music (2013). E quem daria bola para um
disco solo do ex-baixista de uma banda decadente, que só se mostra "em
forma" para executar velhos hits? A verdade é que Heavy Metal
Music é um grande disco ― uma autêntica celebração do rock pesado
dos anos 90 ―, e o Newsted, a banda de Jason, merece respeito. Ainda mais no
meio de tantos revivals que não parecem empolgar nem os
"seguidores" mais fiéis. Incluindo, obviamente, reencontros
históricos, como o de Ig(g)or e Max, no Cavalera Conspiracy.
A
impressão que se tem é de que mesmo os músicos que permaneceram "na
ativa" perderam a velha "pegada". E as novas gravações não tem
nada a acrescentar. Na realidade, diluem o que havia de bom. E como soa o
Newsted? Não necessariamente como o Metallica, como era de se esperar. Primeiro
que Jason canta. Sim, ele canta. Mas nada a ver com James Hetfield; sua
inspiração parece ser mais Lemmy Kilmister, do Motörhead, com o baixo distorcido e
acelerado a puxar o resto do comboio. E, por incrível que pareça, Dave Mustaine,
ex-renegado do Metallica, é também uma inspiração para Jason. "By the teeth of my skin", um simples
verso, evoca Countdown to Extinction (1992), um hit
radiofônico, e musicalmente Rust in
Peace (1990), outro álbum clássico ― mas do Megadeth. Claro que alguns solos de
guitarra homenageiam o timbre de Kirk Hammet; muitas "paradas" evocam
o Metallica clássico (da época de Jason e de antes); e as faixas mais lentas, e
arrastadas, de Heavy Metal Music pagam tributo ao formato consagrado em ...And
Justice... e Black Album. Ocorre que os méritos do Newsted, apesar
disso, persistem.
Jason se
revela um letrista de mão cheia. Ao contrário de uma estrela do rock que
poderia estar aposentada, guarda uma visão de mundo bastante sombria, um
inconformismo saudável (dentro do gênero), não apostando em "imagens"
gastas e conhecidas. Nos melhores momentos, acena para as "filosofias de
vida" de um Max Cavalera. Instrumentalmente, ainda, as sessões rítmicas
são assaz trabalhadas ― sobretudo para alguém que já conheceu o mainstream.
O Newsted, no seu esforço sonoro, brilha como uma banda iniciante ― não se
poupando em estúdio e não facilitando as execuções durante a turnê. Ao contrário
de seus contemporâneos, em resumo, Jason Newsted deixa registrado que ainda tem
algo a acrescentar ao gênero. E Heavy Metal Music é o disco que toda
banda dos anos 90 adoraria gravar e não conseguiu.”
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