Como os seriados da Netflix estão demolindo aos poucos a televisão


Pedro Zambarda de Araujo, DCM

A Netflix não está só afetando a televisão aberta e por assinatura com uma oferta de filmes e seriados pela internet desde 2008. A primeira série original foi o drama político “House of Cards”, lançada em 2013. Em dois anos, a Netflix mudou a indústria de entretenimento e isso ficou nítido no último final de semana.

A companhia fez uma parceria com a Marvel, editora de quadrinhos, para lançar “Demolidor”. Em treze capítulos, “Demolidor” chamou atenção nas redes sociais por seu clima obscuro e muita pancadaria.

Dois dias depois, o canal de TV HBO lançou a quinta temporada de “Game of Thrones”. Cinco episódios vazaram na internet antes da estreia. E as reações às duas atrações foram quase opostas.

“Não sei se foi efeito da incrível temporada de Demolidor, mas achei os primeiros episódios de GoT uma bela porcaria”, disse um amigo meu no Facebook. “Essas pancadarias que rolam no Demolidor são demais”, afirmou outro usuário do Twitter. Por fim, outra pessoa resumiu: “Uma boa série, tal como um bom livro ou um bom filme, é uma arte demanda apreciação”.

A Netflix não é uma empresa tão experiente quanto a HBO. Cada capítulo de “Game of Thrones” custa US$ 6 milhões e sua história é baseada na consagrada saga “Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin. Mais simples — e mais barato –, o Demolidor conseguiu fazer um barulho maior  do que um dos seriados mais vistos e mais pirateados no mundo.

Apostar no super-herói cego não é um acaso. As maiores bilheterias de Hollywood são de filmes de personagens da DC e da Marvel. “Os Vingadores” faturou US$ 1,5 bilhão em 2012, enquanto “Homem de Ferro 3” levou US$ 1,2 bilhão no ano de 2013. Eles perdem para “Avatar” (US$ 2,7 bilhões) e Titanic (US$ 2,1), mas estão no top 10 dos filmes mais lucrativos da história.
A Netflix pretende lançar outras três séries de heróis: Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage. O próprio “Demolidor” teve um desempenho muito melhor do que o filme de 2003 com o canastrão Ben Affleck.

As apostas não estão apenas em produtos mais reconhecidos no mercado.
“House of Cards” é um grande drama político que mostra os intestinos do governo norte-americano sob a ótica de Frank Underwood (Kevin Spacey). É um sucesso mundial. Underwood chegou a ser comparado com o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Injustamente, já que Frank é um vilão fascinante e não um vendedor de bíblia.

Encerrada em 2006, a impagável “Arrested Development” foi retomada pela Netflix, que lançou a quarta temporada com 15 episódios em 2013. Já “Hemlock Grove” é uma história de terror em uma cidade fictícia na Pensilvânia, nos Estados Unidos, e começou no mesmo ano.

A Netflix também comprou de “Lilyhammer”, sobre um gângster novaiorquino que se muda para a Noruega num programa de delação premiada.

“Orange is the New Black” mescla comédia e drama falando de um grupo de presidiárias em uma penitenciária feminina federal. A Netflix ainda produziu documentários como “The Square”, sobre as convulsões egípcias na Praça Tahrir durante a Primavera Árabe. O filme foi exibido em 2014 e rendeu a primeira indicação ao Oscar.

A empresa não está apenas sangrando a televisão. Com um catálogo de produtos voltados para diferentes públicos, com produção própria ou através de licenciamentos, a Netflix  quer competir com grandes estúdios.

No final do ano passado, sua receita foi de US$ 1,146 bilhão contra US$ 1,141 bilhão da HBO. Ou seja, o serviço online é financeiramente mais sustentável do que uma excelente emissora de televisão fechada para assinantes.
Silvio Santos não fez apenas uma piada quando contou em seu programa que só via Netflix. Ele sabe que está na contramão do futuro.

Nenhum comentário: