Eu, robô

O homem de lata (Joel Kinnaman) seria dotado de coração?
"José Padilha recria um "Robocop" como uma junção de questões nacionais julgadas pertinentes, e ninguém diria o contrário a um produto comercializável

Orlando Margarido, CartaCapital

Robocop

José Padilha


A maneira do monstro – e este assim pode ser visto pelo desconforto que provoca até ao próprio – que recria agora, José Padilha juntou as peças para sua maior empreitada. Robocop, em cartaz, é a solução possível para quem ambicionou aliar questões nacionais julgadas pertinentes, e ninguém diria o contrário, a um produto comercializável, bem-sucedido em seu molde de ação. Do sucesso de Tropa de Elite 1 e 2 não há dúvida. Mas do êxito na discussão mais aprofundada sobraram muitas. Tanto assim que, se avalizaram Padilha para esta revisão à produção de 1987, os dois filmes também sinalizaram que o modelo de seu cinema serviria a uma engrenagem azeitada.

As preocupações recorrentes a Padilha chamam a atenção em primeiro lugar num filme feito para não se estabilizar no específico. Assim, temos o tópico da segurança, no embate entre ter ou não robôs policiais no território norte-americano, da mídia sensacionalista e parcial, dos interesses políticos. A esses se somam a avidez empresarial e, claro, o debate nuclear sobre o direito de manipular a coexistência entre homem e máquina e do que disso resultará. No caso, trata-se da percepção quanto ao sentimento do policial (Joel Kinnaman) que tem quase todo o corpo substituído por uma carcaça de aço.

A questão clássica da literatura de ficção científica, sobre se robôs podem sentir ou não, desempenha aqui a convencional atitude de heróis em balançar entre o partido pessoal, como o familiar, e o universal, a exemplo do ocorrido com o Capitão Nascimento. Não se aprofunda o ato ético, por exemplo, talvez por demais inquietante para um meio que almeja apenas a reprodução, ainda que a delegue a um novo responsável."
 

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