Estreia filme que desvenda morte de Iara Iavelberg, a companheira de Lamarca
"O
longa-documentário "Em busca de Iara", dirigido por Flávio Frederico,
estreia esta semana em Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio e São Paulo.
Estreia nesta semana em salas de algumas capitais do país o
longa-documentário "Em busca de Iara", que narra a vida da guerrilheira
Iara Iavelberg, companheira do então capitão do Exército Carlos
Lamarca, um dos líderes da oposição armada à ditadura militar
(1964-1985).
O filme é dirigido por Flávio Frederico, o mesmo do
premiado "Caparaó", e tem roteiro assinado por Mariana Pamplona,
sobrinha de Iara. O drama da família Iavelberg – sobrenome que Mariana,
hoje aos 42 anos, não recebeu de sua mãe pelo medo de sofrer represálias
– e a busca pela história real da morte de Iara conduzem uma narrativa
íntima que dá voz a membros do regime que atuaram na caça a um dos
casais mais procurados da época.
"Tentamos mostrar os diferentes
postos de vista, a investigação que fizemos, os laudos e depoimentos
sobre a morte de Iara, apresentada como suicídio pela ditadura", conta
Mariana à Carta Maior.
Entre seu nascimento em São Paulo, em 1944, e o fim tráfico na Salvador
de 1971, aos 27 anos, apenas algumas semanas antes da morte de Lamarca,
Iara viveu uma juventude tranquila e confortável, até seu marcante
ingresso em 1963 no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
(USP), então localizado na rua Maria Antônia.
Lá começou seu
interesse pela política e a amizade com artistas e intelectuais, o que
resultaria em sua entrada na Polop (Organização Revolucionária Marxista
Política Operária), logo após o golpe. Na clandestinidade, conheceu e
passou a viver com Lamarca em diversos aparelhos pelo país. As cartas de
amor que trocaram nesse período são conhecidas e se tornaram inspiração
para Mariana, assim como o famoso diário do guerrilheiro.
"Eu
tinha 15 anos quando li esse material pela primeira vez, me emocionava
muito. Mas era um assunto sobre o qual falávamos pouco em minha família,
porque machucava muito a minha avó, que tinha perdido uma filha tão
jovem", diz a roteirista, lembrando que os restos mortais de Iara foram
enterrados na ala dos suicidas em um cemitério judeu na capital
paulista.
Mesmo assim, descobrir a verdade sobre a morte da
guerrilheira havia se tornado uma obsessão entre os Iavelberg. Samuel e
Raul, irmãos de Iara e militantes contra a ditadura que foram ao exílio,
travaram uma longa batalha judicial para esclarecer o episódio.
Apenas
em 2002 conseguiram o direito à exumação do corpo, realizada no ano
seguinte. O resultado da perícia realizada por um professor de medicina
na USP sairia em 2005, alterando a narrativa da história oficial de
Iara.
"Para nossa família, o processo era uma questão mais
política do que religiosa. Queríamos fazer um resgate histórico da
figura de Iara, uma mulher forte que decidiu ser guerrilheira para lutar
por um país melhor e mais justo", afirma Mariana.
Apesar dos
novos detalhes sobre a morte de Iara, livros e reportagens que abordam a
história de sua tia se referem ao suicídio como causa da morte, após o
cerco das forças de repressão ao apartamento onde vivia no bairro da
Pituba, em Salvador. Para a roteirista, são visões desatualizadas sobre a
história de Iara e às quais o longa-documentário busca se contrapor.
Com
narração da própria Mariana, o filme ganhou menção honrosa no festival
“É Tudo Verdade” e foi selecionado para outros festivais, no Rio de
Janeiro, em Biarritz e Havana. Agora em exibição comercial, pode ser
visto em salas de cinema em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília e
Porto Alegre.'
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